sábado, 6 de junho de 2009

"A ordem do Discurso"(1970 - aula inaugural do College de France)e um pouco da vida e obra de
Michel Foucault.


Paul-Michel Foucault nasceu em 15 de outubro de 1926. Filho de Paul Foucault, cirurgião e professor de anatomia em Poitiers, e Anna Malapert, Michel pertencia a uma família onde a medicina era tradição, pois tanto o avô paterno quanto o materno eram cirurgiões, mas MichelFoucaulttrilhou seu próprio caminho. Desde cedo demonstrou interesse pela história influenciado por um professor que teve ainda na escola, padre De Montsabert. Foucault era uma pessoa curiosa, o que fazia com que buscasse por conta própria suas leituras. Seu interesse pela filosofia não tardou a aparecer, aprofundando seus estudos com entusiasmo. Como pano de fundo, Foucault vivia os tormentos da Segunda Guerra Mundial. Decepcionando a expectativa de seu pai de que se tornasse médico, e apoiado pela mãe, Foucault segue seu rumo à filosofia. O fato de pertencer a uma família burguesa, possibilitou a Foucault um auxilio frente as suas necessidades econômicas. Foucault e o pai tinham uma relação conturbada, o que não se repetia com a mãe, com quem mantinha forte vínculo. Mudou-se para Paris em 1945, e retornava sempre que podia para visitar a mãe em Poitiers. Enquanto preparava-se para provas, concorrendo a vagas como aluno na École Normale da rue d'Ulm, Foucault entrou em contato com Jean Hyppolite, professor que lhe ensinou Hegel e reforçou seu encanto e sua vocação para a filosofia, marcando-o profundamente.
Em 1946, iniciou seus estudos na École Normale da rue d'Ulm. Foucault trazia com ele a característica de ser uma pessoa solitária e fechada, o que foi tornando-se cada vez mais forte, pois as relações e a competitividade por parte dos alunos desta escola fizeram com que ele recuasse ainda mais do contato social. Tornou-se uma pessoa agressiva e irônica, características estas que se mantiveram por toda sua vida. Em 1948 Foucault tentou suicídio, o que acabou levando-o a um tratamento psiquiátrico. Este impulso, retornou outras vezes em sua vida. Segundo o psiquiatra que o acompanhou, esta atitude estava ligada à dificuldades frente a sua homossexualidade, que começava a anunciar-se. Esta experiência colocou-o pela primeira vez em contato com a psiquiatria, psicologia e psicanálise, o que marcou profundamente a sua obra.
Esteve no Brasil em 1965 para conferência à convite de Gerard Lebrun, seu aluno na rue d'Ulm em 1954. Foucault faleceu no dia 25 de junho de 1984, em plena produção intelectual, o que fez com que sua morte fosse muito sentida. A causa da morte foi questão de muitas discussões, sendo levantada a hipótese AIDS. O autor publicou as seguintes obras:
"Doença mental e Psicologia" (1954);
"História da Loucura" (1961);
"Raymond Roussel" ( 1963 );
"O nascimento da clínica" (1963 );
"As palavras e as coisas"(1966); "A Arqueologia do saber" (1969);
"A ordem do discurso" (1970 - aula inaugural do College de France);
"Vigiar e Punir" (1977);
"A vontade de saber - História da sexualidade I" (1976);
"O uso dos prazeres - História da sexualidade II" (1984);
"O cuidado de si - História da sexualidade III" (1984).
Foucault foi e ainda é um filósofo respeitado e de sucesso. Sempre polêmico, tanto pelas suas idéias, quanto por seu comportamento, temperamento e sua opção sexual. Por ser uma pessoa extremamente estudiosa, culto, atraía admiração dos demais. Há grandes discussões à respeito de Foucault representar ou não a corrente estruturalista.
O pensamento de Foucault poderia ser localizado como parte do debate sobre modernidade, onde a razão iluminista ocupa o local de destaque. O homem, para este filósofo, ocupa um papel importante, uma vez que é sujeito e objeto de conhecimento. Considera o homem enquanto resultado de uma produção de sentido, de uma prática discursiva e de intervenções de poder. Foucault discute o homem, enquanto sujeito e objeto do conhecimento, através de três procedimentos em domínios diferentes: a arqueologia, a genealogia e a ética. Estes procedimentos constituem momentos do método. Para este autor o método dá-se diante do objeto à ser estudado e não ao contrário. Através do método arqueológico, este filósofo aborda os saberes que falam sobre o homem, as práticas discursivas, e não verdades em relação a este homem. Reivindica uma independência de qualquer ciência, pois acredita não poder localizar o homem através do que ela pode oferecer. Estabelece sim, inter-relações conceituais dos diferentes saberes e não de uma ciência.
A ética, para Foucault, é a possibilidade de apontar o sujeito que constitui à si próprio como sujeito das práticas sociais.Em abordagens feitas em seu livro "A Ordem do Discurso", ele inicia ressaltando que o poder advém só de nós, esse poder refere-se aos discursos.
O que percebe-se com a leitura é que em nossa sociedade a produção do discurso é controlada, selecionada e redistribuída por procedimentos de exclusão que é interdição, onde o indivíduo não pode falar de tudo em qualquer circunstância. Foucault destaca perfeitamente esses tipos de interdições. São três os tipos: tabu do objeto, ritual da circunstância, direito exclusivo do sujeito que fala. O discurso é aquilo por que, pelo que se luta, o poder do qual nós queremos nos apoderar, suas interdições revelam sua ligação com o desejo e poder.
Outros princípios de exclusão é a oposição entre razão e loucura, verdadeiro e falso, razoavelmente podemos comparar a vontade da verdade que gera o desejo de saber, de dominar o conhecimento. A verdade se deslocou do ato ritualizado para o próprio enunciado e seu sentido, ela se configura e se apóia por meio das instituições que são o suporte para a vontade da verdade.
Foucault fala de três grandes sistemas externos de exclusão que atingem o discurso: a palavra proibida, o que não pode ser dito; a segregação (separação) da loucura, aquilo que não tem validade social, que está à margem; a vontade da verdade que é a mais enfática, quebra paradigmas, confrontando o discurso na busca da verdade. Os internos são comentário (ligado ao acaso) atualiza e reforça o discurso, as narrativas, numa nova circunstância discurso; o autor, dá a alinguagem ficcional nós de coerência, limita os comentários dando margens a outros comentários, nele está o princípio de agrupamento de discurso que pode torná-lo fragmentado; disciplina é o controle da produção do discurso, em seu interior reconhece proposições verdadeiras ou falsas.
Foucault ressalta também as sociedades do discurso, a pertença doutrinária e o ritual. As sociedades do discurso buscam conservar ou produzir discursos (religiosos, judiciários, etc...) fazendo-os circular em um espaço fechado segundo regras. A pertença doutrinária questiona o tempo enunciado e o sujeito que fala, ao mesmo tempo que liga o indivíduo a certos discursos, ela o afasta dos demais por meio da sujeição. O ritual relaciona-se a comportamentos e gestos
As análises que Foucault proprõe são dispostas em dois conjuntos, o princípio da inversão: refere-se as formas de exclusão, limitação, apropriação. De outra parte a genealogia do poder (é movida pela vontade da verdade) é o princípio de onde parte todas as indagações do discurso.

Por Lila Léa Cardoso Chaves Costa.
Referência bibliográfica:
A ordem do discurso. Michel Foucault.
Aula inaugural no College de France,
pronunciada em 2 de dezembro de 1970.
Tradução: Laura Fraga de
Almeida Sampaio. Edições Loyola.