segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Projeto - CINEMA, ARTE E CULTURA - IMAGENS

A Ponte João Isidoro França conhecida como ponte do sesquicentenário ou ponte estaiada foi projetada para as comemorações dos 150 anos (16 de agosto de2002) de Teresina. É um dos mais importantes pontos turísticos da capital.

Características

Uma ponte feita em concreto armado , em tecnologia estaiada, com extensão de 363 metros , distribuída em seis vãos, dos quais três construído pelo processo de balanço sucessivo e três em processo convencional e com 35 estaios . A plataforma de rolamento prevê três faixas de tráfego de 3,10 metros e passeio para pedestre de 2,15 metros. Possui mastro único para estaiamento, que abriga, em seu topo, um mirante em estrutura metálica, acessível por elevadores e escada deemergência.

A Iluminação da ponte fica a cargo da Eletrobrás sob administrção da prefeitura,e conta com um sistema rotativo que mudar de cor a cada 15 minutos,são 16 tipos de cores diferentes. Um das grandes preocupações do projeto da nova ponte é a não agressão ao meio ambiente,a ponte estaiada não possui colunas de concreto dentro do rio,diferente de outras pontes .A execução das obras do sistema viário e Ponte Estaiada sobre o Rio Poti, na cidade de Teresina - PI, faz a interligação da Av. Dom Severino e a Av. Alameda Parnaíba.


Homenagem

A Ponte Estaiada Mestre João Isidoro França recebe este nome em homenagem ao secretário geral de obras do governo do José Antônio Saraiva, em 1848, fundador da Vila Nova do Poti (primeiro nome deTeresina) O nome foi decretado ainda no início de sua construção em 2002, na administração de Firmino Filho (PSDB).

Isidoro foi arquiteto, engenheiro, urbanista e que tinha total liberdade para construir Teresina,ele era o braço direito do José Antônio Saraiva, sendo o principal projetista das ruas e avenidas de Teresina partir do rio Parnaíba, com ruas largas, antes mesmo de chegarem carros na recém-capital piauiense, além da localização do cemitério, quartel de polícia e prefeitura,entre 1848 a 1852.


Justificativa do Projeto

Crescimento de Teresina, com registro de frota de veículos em 157.000,00 veículos/dia;população estimada em 985.477 habitantes;A zona centro tem uma população de 234.137 habitantes, concentra 87 escolas públicas, 8 centros de saúde, 9 complexos esportivos, 49 praças. Sua principal via de escoamento de tráfego é a Avenida Frei Serafim. A interligação das zonas centro/norte a zona leste, atualmente congestionada, tem se constituído num fator limitante ao deslocamento da população demandante de tráfego entre as duas zonas, sobretudo nos horários de pico, irá reduzir consideravelmente os níveis de congestionamentos das outras pontes, que ao longo dos últimos anos vem sofrendo um forte crescimento, oferecendo rotas alternativas as quais acarretarão uma sensível redução nos acidentes de trânsito.


Construção

O projeto foi divulgado em 2002 e logo foram iniciadas as obras, mas pouco meses depois foi paralisada por conta das eleiçõe de 2002. Apenas 20% da ponte estava pronta e a partir dai novos acordo foram feitos entre União, Estado e Município, e assim no início de 2008 foi dada a continuação.

Uma das polêmicas da construção da ponte é que seria necessário a remoção de algumas casas na proximidade da ponte e, o final, foram removidas a fim de dar melhor acesso. A Caixa Econômica Federal foi responsavél pela avaliação das casas.A obra foi alvo de muitas instituições como TCU,TC-PI,CREA.

Em fevereiro de 2010, ocorreu mais uma paralisação. Desta vez por conta dos operários que reivindicavam ajuste salarial, ficando por 16 dias sem trabalho. Logo após uma reunião entre o prefeito, o deputado estadual Cícero Magalhães (PT) e representantes dos trabalhadores, dentre eles Raimundo Ibiapina, presidente do Sindicado dos Trabalhadores na Construção Civil (Sitricon) e o ditetor da OAS,a obra pode seguir em andamento.


Mirante

O Mirante fica no topo do único mastro central onde os estaios são sustentados. O equipamento, com cerca de 300m quadrados e capacidade de 100 pessoas, foi projetado para receber turistas. Um mezanino foi construído nos moldes do que fica no mirante da Torre Eiffel que permite uma visão de 360° da cidade. O acesso é pelo lado leste da ponte pela Av. Raul Lopes e através de 2 elevadores panorâmico que tem capacidade para 10 pessoas,a altura é equivalente a um prédio de 32 andares.O mirante é montado com peças de metal e aço e revertido com cortina de vidro,totalmente climatizado.

O mirante demorou a ser entrege aos visitantes[2], mesmo com ponte já inaugurada,a demora nos testes dos elevadores e no acesso foi apontada como uma das causas. O mirante foi inaugurado no dia 28 de fevereiro de 2011, quase um ano depois da inauguração da ponte. A prefeitura diz que inicialmente, o mirante só será aberto à visitação nos dias de segunda à sexta-feira, das 10 às 18 horas e será cobrada uma taxa de 3 reais. A capacidade será de até 80 pessoas e o tempo máximo da visita é de 20 minutos.

O valor obra é de R$ 74 milhões, sendo R$ 43 milhões oriundos da União, R$ 20 milhões do Governo do Estado e R$ 11 milhões da Prefeitura de Teresina, por meio dos Ministério dos Transportes e Ministério do Turismo. Ou seja: é fruto de uma parceria entre União, Estado e Município, em nome do presidente, governador e prefeito Silvio Mendes (PSDB),construtora OAS foi responsável pela execução da obra.




Roteiro de visita do projeto - Encontro dos Rios, Feira de artesanato, Ponte Estaiada, Cinema.



Cabeça-de-Cuia, representação de uma das mais famosas lendas teresinenses localizada no Parque Ambiental Encontro dos Rios

Síntese da lenda:
Relata a história de um pescador (Crispim) que morava na antiga vila do Poty com sua mãe viúva. Um dia, ao chegar em casa de uma pescaria mal sucedida, encontra sua mãe, que havia terminado de preparar um único prato de feijão com um corredor de boi. Enraivecido com aquela situação de estrema miséria, passa a espancar impiedosamente sua pobre mãe com o dito osso de boi. Esta caiu ao chão do terreiro. Num último suspiro antes de morrer lhe desfere uma maldição: “Serás transformado num monstro, filho ingrato!”, em pleno horário de meio dia (que no dito popular é a hora em que os anjos cantam salmos e dizem amém).
A maldição diz que Crispim se transformou em um ser monstruoso com o corpo mais ou menos em configuração de gente, mas com uma aparência grotesca e cabeça em forma de cabaça (daí seu nome de cabeça-de-cuia).
Segundo a maldição, o Cabeça-de-Cuia vive nas águas do rio Parnaíba em uma metade do ano e na outra metade ruma para o rio Poty e aparece para as pessoas na cheia do rio em dia de lua cheia. Diz também a lenda que ele costuma passar algum tempo incorporado em algum louco que perambula pelas ruas de Teresina. Sua maldição só acabará no dia que conseguir devorar sete mulheres virgens de nome Maria.

Encontro dos rios Poti e Parnaíba.


Projeto: Cinema, Arte e Cultura

Teresina é conhecida por seu artesanato, principalmente pela arte santeira em madeira.

O artesanato em cerâmica também é outra tradição teresinense, produzindo peças belíssimas. O bairro Poti Velho, situado na confluência dos rios Parnaíba e Poti, é um tradicional pólo de produção deste tipo de arte. A temática é variada e eclética, passando por utensílios decorativos e de uso diário e esculturas sacras e profanas.

Com o passar do tempo, houve investimento em treinamento e organização e o artesanato local atingiu níveis de qualidade e refinamento nunca vistos, sendo exportado para outros Estados e para o exterior. Novos materiais, novas tecnologias e o respeito ao meio-ambiente marcam esta nova fase de desenvolvimento do artesanato piauiense.

Há locais em que se pode admirar isso, como:

  • Pólo Cerâmico do Poti Velho - Região onde artesãos confeccionam e vendem a cerâmica por eles produzida com a argila do rio Poti, são trabalhos que envolvem vasos, peças de decoração e até mesmo bijuterias;
  • Centro Artesanal Mestre Dezinho - No lugar do antigo quartel, artesanato. São 25 lojas que oferecem cultura em fibra, couro, madeira, doces. Ensaiando passos e acordes, escolas de dança e música. Além disso, restaurante típico põe à mesa o melhor do cardápio do Piauí: maria isabel, sarapatel, baião-de-dois, feijão com pequi.


Projeto Cinema, Arte e Cultura - U. I. M. José Castro - Oct / 2011





O Pólo Cerâmico do Poty Velho fica na Rua Desembargador Flávio Furtado, próximo ao Parque Encontro dos Rios, no Bairro Poty Velho, zona norte de Teresina – PI.

O Poti velho antes de ser o pólo artesanal de Teresina como é hoje, era uma vila de pescadores que, aliás, guarda lendas até hoje. Antigamente lá se produzia apenas tijolos e os homens trabalhavam com a cerâmica. Às mulheres, ficava somente o ofício de transportar os objetos a serem vendidos. Contudo hoje o Poti Velho ambienta artesanato feito por ceramistas da região e são as mulheres que produzem a grande maioria das peças.

Em 2006 foi implementado o Pólo Cerâmico do Poti Velho que recebe muitos visitantes aos domingos e por consequência compradores em potencial. O Insigneweb foi conferir a qualidade das peças lá produzidas e se deparou com lojas bem estruturadas (inclusive com estacionamento para carros), que aceitam cartão de crédito, e associações que têm seu artesanato tão bem apresentado que receberam o selo Top 100 do Sebrae garantindo o investimentos de empresas privadas. São peças para todos os gostos.

Museu da Língua Portuguesa: Oswald de Andrade

Museu da Língua Portuguesa: Oswald de Andrade: o culpado de tudo
Exposição temporária:
Oswald de Andrade: o culpado de tudo
A exposição ficará aberta à visitação pública na Sala das Exposições Temporárias do Museu da Língua Portuguesa entre 27 de setembro de 2011 e 30 de janeiro de 2012.
A frase “Direito de ser traduzido, reproduzido e deformado em todas as línguas”, escrita por Oswald em 1933 no verso da folha de rosto da edição original de Serafim Ponte Grande, é o ponto de partida da exposição e pode ser lida já no pátio de acesso ao museu.
Em Oswald de Andrade: o culpado de tudo, o público tem a oportunidade de conhecer profundamente o polêmico escritor, um dos criadores da Semana de Arte Moderna de 22. A curadoria é de José Miguel Wisnik, com curadoria-adjunta de Cacá Machado e Vadim Nikitin. Carlos Augusto Calil e Jorge Schwartz são consultores da exposição. O projeto expográfico é do arquiteto Pedro Mendes da Rocha.
Pela primeira vez o museu realiza uma exposição sobre a vida e obra de um escritor paulista e paulistano. Para o Secretário de Estado da Cultura, Andrea Matarazzo, “Oswald de Andrade é o mais paulista dos nossos escritores. Conheceu e viveu esta cidade como ninguém. Para nós, da Secretaria da Cultura, é um privilégio dar a nossa contribuição para a lembrança do escritor, um artista que revolucionou a nossa literatura e que, ao participar ativamente da criação da Semana de Arte Moderna, inseriu São Paulo no mapa mundial das artes.”
Leia sobre a exposição no site do museu: http://www.poiesis.org.br/mlp/exposicoes.php

VIDA

A vida
em seu transbordamento intempestivo
desalinha-se do corpo
e foge...

Revistas Brasileiras e Textos Teatrais Disponíveis On-Line

Revistas Brasileiras e Textos Teatrais Disponíveis On-Line
Boletim Do Arquivo Edgard Leuenroth - ANO 13 N. 148 setembro 2011
A Biblioteca Jenny Klabin Segall, especializada em Artes do Espetáculo, coloca à disposição as edições completas das primeiras revistas brasileiras dedicadas ao cinema, A Scena Muda e Cinearte, e a coleção de textos teatrais, editados em forma de folheto, entre o século XIX e a primeira metade do século XX. O projeto em questão visa dar amplo acesso a esse acervo, patrimônio cultural do país, bem como preservar as coleções originais que, pela ação do tempo e contínuo manuseio, apresentavam avançado estado de deterioração.

O Arquivo Edgard Leuenroth (AEL), o Centro de Documentação Cultural Alexandre Eulálio (CEDAE), ambos da UNICAMP, o Centro de Documentação da FUNARTE e o Instituto Moreira Salles são parceiros deste projeto. Contou com o patrocínio do Programa Petrobras Cultural e apoio do SciELO/FAPESP/BIREME que hospeda as mais de 120 mil imagens que compõe o site.

Saiba mais em:
http://www.bjksdigital.museusegall.org.br/index.html
Arquivo Edgard Leuenroth :
www.ifch.unicamp.br/ael


Disponível a consulta também em:http://blog-alb.blogspot.com/

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

sábado, 17 de setembro de 2011

MOACYR SCLIAR

"Escrevo há muito tempo.
Costumo dizer que, se ainda não aprendi,
não foi por falta de prática."

MOACYR SCLIAR
Escritor e médico
No seu livro O texto, ou: A vida.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Fazendo Gênero 8 - Corpo, Violência e Poder Florianópolis, de 25 a 28 de agosto de 2008 Literatura, Gênero e Escritoras Em São Luís, Maranhão Renato

Fazendo Gênero 8 - Corpo, Violência e Poder
Florianópolis, de 25 a 28 de agosto de 2008
Literatura, Gênero e Escritoras Em São Luís, Maranhão
Renato Kerly Marques Silva - UFMA
Relações de Gênero; Academia Maranhense de Letras; Escritoras Maranhenses
ST 66 - Construindo novas relações de gênero: a presença feminina nos territórios do saber

Introdução
Como nos lembra Santos está na tradição da Sociologia preocupar-se com a questão social, com as desigualdades sociais, com a ordem/desordem autoritária e a opressão social que parecem ir de par com o desenvolvimento capitalista (2000, p. 17).
Essa descrição genérica com que Santos descreve os temas onde se concentram a maioria
das pesquisas da Sociologia (desde o período de estabelecimento quanto ciência, ainda no século XIX) foram ampliados de forma bastante significativa ao longo do século XX. Dentre os vários movimentos sociais que marcaram o século passado o movimento feminista e a crítica desenvolvida por algumas de suas representantes funcionaram como um ponto importante para a observação de que muitos dos conhecimentos até hoje produzidos desconsideravam os sujeitos que estavam inscritos nas posições/categorias de mulheres. A Literatura produzida por mulheres, ao longo dos tempos, pode ser incluída com um dos temas silenciados pelo trabalho científico produzido por homens, sobretudo, nas pesquisas relacionadas à Crítica Literária. Quando aparece nos registros históricos (Cânones Literários, essencialmente) as obras literárias produzidas por mulheres são citadas como obras de menor qualidade. Segundo Schwantes
(2006):
Os estudos de Gênero [partiram] de uma ampla operação de revisão do Cânone
Literário, na tentativa de demonstrar que as escritoras mulheres são, a longo prazo,
defenestradas do Cânone. Não necessariamente porque suas obras não tenham
qualidade, mas porque, para tornarem-se capazes de expressar uma experiência
especificamente feminina, recusada no contexto de uma instituição literária
falologocêntrica, elas precisam, de alguma forma, trair e subverter os pressupostos
que aparentemente, abraçam. Dessa forma, o que pareceu falha [nessa literatura] é
exatamente o que o que lhe confere especificidade.
No Brasil, esforço de questionar os motivos dessa (des)valorização da literatura produzida por mulheres já contabiliza trabalhos de diferentes pesquisadoras(es), juntamente com o movimento de crítica ao Cânone Literário tem ocorrido uma ação de resgate da literatura produzida por 2 mulheres em diversas localidades do Brasil, realizada por pesquisadoras como Elódia Xavier (UFRJ), Luiza Lobo (UFRJ), Norma Telles (PUC/SP), Zahide Lupinacci (UFSC), entre outras.
Seguindo por um caminho um pouco diferente das linhas de pesquisas que acabei de citar, neste trabalho, discuto sobre a participação de mulheres na Academia Maranhense de Letras (AML). A partir da dos discursos de posse e recepção das escritoras que participam dessa instituição observo alguns pontos referentes à construção e elaboração de uma imagem da escritora e do escritor maranhense.
A intenção de questionar esse tema, transformando-o em objeto sociológico, não vem dos reflexos da insatisfação popular que orientam muitos dos trabalhos desta disciplina. Pelo contrário, como muitos trabalhos que discutem sobre as relações de gênero, este é influenciado pelo silêncio que parece encobrir muitas das temáticas referentes à participação e também à atuação de mulheres em diversos territórios do saber.
São Luís e a Literatura Alguns historiadores costumam falar de uma grande relação entre a história da cidade de São Luís e a Literatura (MEIRELES, 2001; LACROIX, 2002), tal relação foi construída principalmente a partir do século XIX. Nesse período, ainda durante o Império, a então, Província do Maranhão conheceu uma das suas melhores fases econômicas e culturais, especialmente no período conhecido como ciclo do algodão, mercadoria produzida em grande quantidade e exportada em sua quase totalidade para a Europa.
... o enriquecimento particular permitiu aos grandes senhores do maranhão, desde o
último quartel do século XVIII, o luxo de mandar seus filhos [...] a estudar na
Europa [...] isto criou um campo propício ao surgimento de um núcleo intelectual
bem ao gosto e feitio do romantismo literário (MEIRELES, 2001, p.266-267).
No período compreendido entre 1832 e 1868, portanto, pouco depois da Independência do
Brasil, essa aproximação com a cultura européia fomentou o início de uma produção literária extremamente relacionada às primeiras fases do romantismo literário europeu.
Nesse momento, São Luís conheceu o que é hoje chamado de Grupo Maranhense, grupo de
autores que escreviam em estilo romântico e que tiveram destaque nacionalmente. Composto por várias personalidades das letras maranhenses, dentre as quais se destacaram nomes como Gonçalves Dias, Odorico Mendes, Sotero dos Reis, Sousândrade, dentre outros, que em função do reconhecimento de suas obras, ajudaram a “forjar” o título de Atenas Maranhense, para a capital da Província do Maranhão. O destaque alcançado pela produção literária do século XIX gerou uma relação muito
próxima da elite econômica maranhense com a literatura, jornais literários eram publicados, saraus
eram organizados, grupos de discussão e leitura de obras reuniam-se com freqüência na cidade.
É no inicio do século XX que será fundada a Academia Maranhense de Letras - AML,
seguindo os moldes da Academie Française, essa Instituição propunha-se a, fomentar “o desenvolvimento da cultura, a defesa das tradições literárias do Maranhão e o intercâmbio com os centros de atividades culturais do Brasil e do estrangeiro” (DIÁRIO OFICIAL DO ESTADO, em 27.nov.1979, p.3).
Fundada em 10 de agosto de 1908, a AML funcionou sem uma sede fixa até meados de
1950, desde então, sua sede localiza-se na Rua do Sol (na antiga sede da Biblioteca Pública de São Luís), proxímo ao largo do Carmo, e ao Tetro Arthur Azevedo, no centro de São Luís.
Um ponto importante a ser destacado entre seus membros é a grande participação de
políticos, cuja maiora, ainda hoje, teve uma formação nas áreas da medicina e do direito. Fato que vem sendo sutilmente modificado com a entrada de alguns(mas) professores(as) universitários .
Escritoras e acesso à AML O acesso de novos membros à AML dá-se através de processo de candidatura e eleição para um vaga que possa surgir mediante a morte de um antigo membro. Com exceção dos doze fundadores da Academia, os demais membros que ocupam/ocuparam uma das quarenta cadeiras da instituição (um total de mais de cem “ilustres” maranhenses) foram indicados ou convidados a se inscreverem para as vagas deixadas por membros falecidos.
Considerando a AML como um local do estabelecimento de relações desiguais de poder.
Procuro, perceber até que ponto diferenças de posições e status nas relações de gênero tem influenciado nas relações entre os imortais e a escolha dos novos representantes para participarem dessa instituição, já que até hoje, apenas sete mulheres maranhenses receberam tal título, frente aos mais de 96
3
membros homens que o receberam.
As mulheres que foram eleitas membros da AML, por ordem de entrada para a Academia
foram: Laura Rosa, Conceição Neves Aboud, Dagmar Desterro, Lucy Teixeira, Laura Amélia Damous, Ceres Fernandes e Sônia Almeida.
A participação de homens e de algumas mulheres em uma instituição como a AML parece
exigir como um pré-requisito o conhecimento e o domínio de um meio de expressão, o literário, e muito mais do que isso, consiste no reconhecimento do valor estético dessas obras pelos membros que participam da Academia e se denominam como guardiões da língua que utilizam.
No entanto, diversas questões associadas às características aparentemente subjetivas da produção e recepção literária, podem ser relacionadas ao acesso de escritores à AML, dentre elas relações políticas, econômicas, de escolaridade, de raça, e, além disso, de gênero. Tal fato pode ser observado em traços comuns nas falas de seus membros, como no caso de Dagmar Desterro, terceira mulher a ser aceita como imortal da AML...
Estava no hospital, quando um grupo de acadêmicos foi comunicar-me que havia
sido escolhida para preencher a vaga do cônego Dourado [...] no próprio hospital
comecei a escrever meu discurso de posse. E, escolhi o Mário Meireles para me
receber [...] Fui acadêmica porque me escolheram, isso escrevi no meu discurso:
não bati à porta para pedir para entrar, foram me buscar para que adentrasse ao
recinto da Academia .
Este trecho parece descrever em parte o tipo de relações que regulamentam o
funcionamento da AML, sobretudo, relações construídas a partir de relacionamentos pessoais, onde fatores como amizades podem favorecer, em determinados momentos, a ascensão de um escritor ao título de imortal.
A solenidade de posse A Solenidade de posse de um membro da Academia Maranhense de Letras é um ato público aberto à sociedade em geral, até onde constam nos registros da AML e na memória de alguns interlocutores entrevistados o protocolo de tal solenidade compõem-se de duas partes essenciais.
A primeira parte, diz respeito ao discurso feito pelo novo membro da instituição, nesse discurso, o novo imortal apresenta um pequeno texto onde exalta a vida e a obra dos escritores que o precederam na cadeira que a partir desse dia ele/ela irá ocupar. Além disso, o novo acadêmico relata quão lisonjeado encontra-se em ter sido convidado para participar da eleição e agradece por ter sido aceito como membro da agremiação.
Na segunda parte, um antigo membro da academia, geralmente, o que tem relações mais
próximas com o recém eleito, realiza um discurso onde fala da “grandeza” de ser condecorado com o título de imortal e apresenta alguns trechos da produção do novo membro os quais ilustram a
qualidade de sua produção literária.
A seguir cito alguns trechos de dois discursos proferidos em Solenidades de Posse da
Academia Maranhense de Letras, o primeiro é o discurso de posse de Laura Rosa realizado por no dia 17.04.1943 e o segundo é o discurso de recepção proferido por Américo Azevedo Neto, na posse de Laura Amélia Damous em 14.03.2003.
No primeiro discurso, destaco um ponto que parece comum na posse de membros homens
e/ou mulheres, a referência a algum amigo mais próximo, o qual parece ser responsável pela
indicação do membro para concorrer à vaga da Academia. 5
Manda a justiça que vos diga, em primeiro lugar, que me trouxeram para esta casa
de sábios ilustres as mãos amigas de Corrêa de Araújo e Nascimento de Moraes
com a benevolência de seus pares. Trouxeram-me, porque, de mim mesma, nunca
imaginei suficientes os meus versos, para merecimento de tão honrosas credenciais
(Revista da AML, 1998, p. 13).
A humildade com que a escritora se apresenta frente aos seus atuais confrades prolonga-se por algumas frases reforçando a valorização dos membros mais antigos e ao mesmo tempo, sutilmente reconhecendo o valor de suas poesias.
Eis-me, portanto, aqui, Senhores, a primeira mulher que aqui entra, porque assim o
quiseram os homens ilustrados desta agremiação, guardas fiéis de nossas tradições
literárias (Revista da AML, 1998, p. 15).
No segundo discurso, através de um conjunto de oposições e comparações, o escritor que recepciona o novo membro, o remete a um ser complexo e completo, que segundo o acadêmico seriam qualidades do poeta.
Devo, portanto, receber o poeta e a poesia, o efeito e a causa, o sonho e o sexo, a
versão e o fato, o algoz e a vítima. Devo, enfim, receber a força vital que
arrepiando a vida, ocasiona a morte, e a morte que, vencendo a si própria, se
transforma em vida.
Devo, finalmente, receber o lógico paradoxo e o ordenado caos de que um poeta é
feito.
Devo receber o anjo andrógino que, auto-fecundado, pariu versos gerados por seu
próprio espírito, talvez não santo, mas seguramente, sensibilíssimo e sábio [...]
Começo por aquela que, com indiscutível raridade, faz confundir em si o poeta e a
musa, aquela que, mais que a maioria, é adubo e flor, raiz e rama, terra e safra
(AZEVEDO NETO, 2003, p. 30).
O imortal que recebe Laura Amélia retoma um ponto muito discutido a respeito da
produção literária: o sexo do escritor. Ao falar que o poeta é um anjo andrógino, auto fecundo, o autor sugere que a experiência pessoal e a vivência da nova imortal na situação de mulher, não é representável ou perceptível pela sua produção literária. Mesmo que no final do texto ele afirme que
a escritora consegue confundir em si o poeta e a musa.
Considerações Diante das análises iniciais, parece-me que, embora, a produção literária seja citada como um local de expressão dos sentimentos, da emoção que remeteria a um espaço feminino (segundo uma divisão arbitrária dos papéis sexuais/sociais) quando a produção literária designa status social,
ocorre um deslocamento entre a dicotomia emoção/razão onde às obras produzidas por homens cabe todo o destaque em detrimento das obras produzidas por mulheres. Diante desse fato, observo que fatores como as relações de poder e de gênero fazem com que muitas das escritoras maranhenses sejam desconhecidas, ou melhor, silenciadas. 6
A partir do momento em que as obras literárias produzidas deslocam-se da finalidade de distrair a mulher, e ganham dimensões públicas, ao representar uma sociedade, ou, ao ser instrumento de inculcação desta, a Literatura parece assumir posições importantes para reconhecer e legitimar idéias e práticas sociais. Nesse momento, o espaço de seus produtores passa a ser ocupado em sua grande maioria por homens.
O que me parece como a questão principal para a discussão da ausência de mulheres na
AML, situa-se na aparente, construção de redes de relacionamento entre os escritores, já que são esses mesmos escritores que definem as normas de acesso a Academia. E, neste caso, a norma de acesso aos meios de produção e de discussões literárias parece não propiciar muitos espaços para que as escritoras adentrem. Talvez por não considerar as singularidades de suas obras, ou por estas não estarem associadas a laços de parentesco ou afetivas, que aparecem nos elogios dos críticos literários às obras de alguns escritores maranhenses.
Referências
DAMOUS, Laura Amélia; AZEVEDO NETO, Américo. Na Casa de Antonio Lobo: discurso de
posse e recepção. Academia Maranhense de Letras. São Luís. 2003.
FACINA, Adriana. Literatura e Sociedade. Jorge Zahar Ed.: Rio de Janeiro, 2004.
FARIA, Regina; MONTENEGRO, Antonio (org). Memória de Professores: histórias da UFMA e
outras historias. São Luís/ Brasília:CNPq/UFMA, 2005.
LACROIX, Maria de Lourdes Lauande. A Fundação Francesa de São Luís e Seus Mitos. 2.ed.
Lithograf: São Luís, 2002.
Revista da Academia Maranhense de Letras. São Luís. Edições AML, Ano 80. Nº 20 –
dezembro de 1998.
MEIRELES, Mário M. História do Maranhão. 3.ed. Siciliano: São Paulo, 2001
MORAES, Jomar. Perfis acadêmicos. 2ª ed. São Luís: Edições AML, 1987.
SANTOS, Boaventura de Sousa. Pela mão de Alice: o social e o político na pós-modernidade. São Paulo: Cortez, 2000.
SCOTT, Joan W.. Gênero: uma Categoria útil para a análise histórica. Disponível em:
http://www.dhnet.org.br/direitos/textos/generodh/gen_categoria.html, acessado em 07.11.2005.
SCHWANTES, Cíntia. Espelho de Vênus: questões da representação do feminino. Disponível em:
http://www.amulhernaliteratura.ufsc.br/artigo_cintia.htm acessado em: 20.06.2006.

1
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal do Maranhão.
2
Quando falo sobre Literatura utilizo o mesmo conceito discutido utilizado por FACINA: “campo das letras que conquistou certa autonomia e especialização no mundo contemporâneo, destacando-se do que se costumava chamar
belas letras e que incluía, além da poesia e do romance, a filosofia, a história, o ensaio político ou religioso”(FACINA, 2004, p. 07).
3
Fonte: Academia Maranhense de Letras — A.M.L., tópico do site WIKIPÉDIA,
http://pt.wikipedia.org/wiki/Academia_Maranhense_de_Letras, acessado em: 31.01.2007.
4
Este exceto foi retirado de uma entrevista dada por Dagmar Desterro à professora Regina Faria, do Departamento de
História da UFMA.

A situação das mulheres no país - José Castro. Juliana e Raíssa








Crise do homem como sujeito histórico de classe


Crise estrutural do capital e precarização do homem-que-trabalha
Posted on 29/08/2011 by boitempoeditorial| Deixar um comentário
Por Giovanni Alves.


A verdadeira crise do nosso tempo histórico não é a crise das economias capitalistas, mas sim a crise do homem como sujeito histórico de classe, isto é, ser humano-genérico capaz de dar respostas radicais à crise estrutural do sociometabolismo do capital em suas múltiplas dimensões. É importante salientar que crise não significa morte do sujeito histórico de classe, muito menos sua supressão irremediável, mas tão–somente a explicitação plena da ameaça insuportável à perspectiva de futuro, risco de desefetivação plena do ser genérico do homem e, ao mesmo tempo, oportunidade histórica para a formação da consciência de classe e, portanto, para a emergência da classe social de homens e mulheres que vivem da venda de sua força de trabalho e estão imersos na condição de proletariedade.

A crise é o momento em que se explicita, em sua dramaticidade histórica (e diriamos hoje, midiática), a “alienação” como um poder “insuportável”, isto é, um poder contra o qual homens e mulheres enquanto individualidades pessoais e sob determinadas condições, se insurgem ou se indignam na medida em que se torna perceptível, mesmo no plano da consciência contingente de classe, a sua condição de proletariedade.

Na Ideologia Alemã, de 1847, Karl Marx e Friedrich Engels, conseguiram apreender, com genialidade visionária, o que torna-se hoje cada vez mais perceptível no capitalismo global do século XXI: a constituição de uma massa da humanidade como massa totalmente “destituída de propriedade” e que se encontra, ao mesmo tempo, em contradição com um mundo de riquezas e de cultura existente de fato.

Para Marx e Engels, a explicitação plena da condição de proletariedade – e que está na raiz dos movimentos de jovens precários no mundo do capitalismo mais desenvolvido – pressupõem um alto grau de seu desenvolvimento das forças produtivas, que segundo eles, “con­tém simultaneamente uma verdadeira existência hu­mana empírica, dada num plano histórico-mundial e não na vida puramente local dos homens”. E salientam: “Apenas com este desenvolvimento universal das forças produtivas dá-se um intercâmbio universal dos homens, em virtude do qual, de um lado, o fenômeno da massa ‘destituída de propriedade’ se produz simultaneamente em todos os povos (concorrência universal), fazendo com que cada um deles dependa das revoluções dos outros; e, finalmente, coloca indivíduos empiricamente univer­sais, histórico-mundiais, no lugar de indivíduos locais”.

Deste modo, é sob as condições históricas da crise do sujeito de classe que se coloca a oportunidade radical de sua afirmação objetiva e subjetiva, seja enquanto massa “destituida de propriedade”, seja enquanto indivíduos empiricamente universais, histórico-mundiais, no lugar de indivíduos locais” (não é desprezivel o papel da Internet com seus blogs alternativos e redes sociais – como facebook e twitter – na construção das individualidades histórico-mundiais).

Por outro lado, é importante salientar também que a crise estrutural do capital não significa incapacidade de crescimento (e expansão) da economia capitalista. Crise estrutural do capital não significa estagnação e colapso da economia capitalista mundial. Apesar da sua crise estrutural, o capital como sistema de acumulação de valor e modo estranhado de metabolismo social, tem-se expandido nos últimos trinta anos, apresentando, por exemplo, na passagem para o século XXI, índices exuberantes de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) nas fronteiras da modernização do capital (como Índia, China e Sudeste Asiático).

Apesar da crise financeira e crise das dívidas soberanas nos EUA e União Européia, em 2008 e 2011, é provável que, a curto ou médio prazo, as economias norte-americanas e europeias possam retomar, a duras custas, o crescimento do PIB. Entretanto, percebe-se cada vez mais que o crescimento do PIB não se traduz em bem-estar social. Pelo contrário, nas últimas décadas aumentou nos países ricos a precariedade do trabalho, a contenção dos gastos públicos, corte de direitos sociais e a corrosão do Estado-Providência. Portanto, torna-se visível, cada vez mais, a incapacidade estrutural do capital como modo de controle estranhado do metabolismo social e sistema produtor de mercadorias, em realizar suas promessas civilizatórias de desenvolvimento e bem-estar social, inclusive no núcleo orgânico mais desenvolvido do capitalismo histórico.

Portanto, o sentido radical da crise do nosso tempo histórico diz respeito à incapacidade da forma social do capital em conter (e realizar) as possibilidades de desenvolvimento do ser genérico do homem pressupostas pela nova materialidade sócio-técnica em virtude da degradação das condições materiais de reprodução humana, inclusive no pólo desenvolvido do capitalismo global. Este é mais um elemento compositivo do esgotamento histórico de um modo de controle do metabolismo social baseado na propriedade privada dos meios de produção social e divisão hierárquica do trabalho.

Na verdade, a crise estrutural do capital possui as características de uma “síndrome” social, isto é, de um “estado mórbido” caracterizado por um conjunto de sinais e sintomas associados a uma “condição social crítica”, suscetível de despertar reações de temor e insegurança global. Como salientou Antonio Gramsci em seus Cadernos do Cárcere, “a crise consiste no fato que o velho morre e o novo não pode nascer: neste interregno verificam-se os mais variados fenômenos mórbidos” (é o que iremos tratar nos próximos artigos como sendo a barbárie social).

A “condição crítica” da síndrome do capital é a convergência histórica de um conjunto de crescentes contradições sociometabólicas do sistema mundial do capital, principalmente a partir de meados da década de 1970. A principal delas diz respeito à contradição capital-trabalho, na medida em que é através do trabalho que o sociometabolismo do capital vincula os seres humanos à natureza: a aguda elevação da produtividade do trabalho em virtude do processo cumulativo do progresso técnico, tende a explodir a materialidade do valor-trabalho, uma “implosão” contínua e permanente no espaço-tempo comprimido do novo tempo histórico do capitalismo global. É por isso que o consumo de trabalho vivo de uma parte da força de trabalho torna-se irrelevante para o sistema do capital. (José Nun, um dos teóricos da CEPAL, irá chama-las de “massa marginal” e Robert Kurz, de “sujei tos monetários sem dinheiro”). Eis a raiz da ampliação persistente da precariedade social do trabalho no plano histórico-mundial.

Em 1863, nos Grundrisse, Karl Marx conseguiu apreender o traço radical do nosso tempo histórico, ao observar que, sob o capitalismo, “o tempo é tudo, o homem já não é nada; é, quando muito, a carcaça do tempo”. Na verdade, são as “massas marginais”, os “sujeitos monetários sem dinheiro” ou ainda os homem-carcaças – a massa da humanidade “destituída de propriedade” – que estão se insurgindo nos riots dos bairros pobres de Londres ou nos movimentos sociais do precariato indignado que ocupa as praças de Lisboa e Madri.

Enfim, a crescente redundância do trabalho vivo e da força de trabalho é a “ponta do iceberg” de um sistema de metabolismo social baseado na precariedade social do trabalho e que expõe cada vez mais seus limites estruturais, demonstrando ser incapaz de conter o processo civilizatório humano-genérico.

Deste modo, podemos caracterizar a crise estrutural do capital como sendo, por um lado, no plano da objetividade social, pela (1) crise de formação (produção/realização) de valor, onde a crise capitalista aparece, cada vez mais, como sendo crise de abundância exacerbada de riqueza abstrata. Entretanto, temos salientado que o caráter radical da crise estrutural do capital, diz respeito a (2) crise de (de)formação do sujeito histórico de classe instaurado pelo estado de barbárie social. A crise de (de)formação do sujeito de classe é uma determinação tendencial do processo de precarização estrutural do trabalho que, nesse caso, aparece como precarização do homem-que-trabalha.

A precarização do trabalho não se resume àquilo que pensa a sociologia do trabalho, isto é, a mera precarização social do trabalho ou precarização dos direitos sociais e direitos do trabalho de homens e mulheres proletários. A precarização do trabalho implica também a precarização-do-homem-que-trabalha como ser humano-genérico (o que explica a pandemia de depressão e transtornos psicológicos do homem-que-vive-do-trabalho).

Sob o capitalismo global, a manipulação (ou “captura” da subjetividade do trabalho pelo capital) assume proporções inéditas, inclusive na corrosão político-organizativa dos intelectuais orgânicos da classe do proletariado. Com a disseminação intensa e ampliada de formas derivadas de valor na sociedade burguesa hipertardia, agudiza-se o fetichismo da mercadoria e as múltiplas formas de fetichismo social, que tendem a impregnar as relações humano-sociais, colocando obstáculos efetivos à formação da consciência de classe necessária e, portanto, à formação da classe social do proletariado.

O processo de dessocialização do proletariado, com impactos na consciência de classe e o poder da ideologia no bojo do capitalismo manipulatório com a intensificação do fetichismo da mercadoria devido a vigência do mercado na estruturação social, compôs um cenário qualitativamente novo de riscos de desefetivação do homem como ser capaz de dar respostas radicais à crise estrutural do sociometabolismo do capital em suas múltiplas dimensões. Deste modo, a barbárie se instaura como metabolismo social, isto é, constitui-se a barbárie social, uma nova dimensão da barbárie histórica dentro do capitalismo.

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Giovanni Alves é doutor em ciências sociais pela Unicamp, livre-docente em sociologia e professor da Unesp, campus de Marília. É pesquisador do CNPq com bolsa-produtividade em pesquisa e coordenador da Rede de Estudos do Trabalho (RET) e do Projeto Tela Crítica. É autor de vários livros e artigos sobre o tema trabalho e sociabilidade, entre os quais O novo (e precário) mundo do trabalho: reestruturação produtiva e crise do sindicalismo (Boitempo Editorial, 2000) e Trabalho e subjetividade: O espírito do toyotismo na era do capitalismo manipulatório (Boitempo Editorial, 2011). Colabora para o Blog da Boitempo mensalmente, às segundas.