quinta-feira, 26 de novembro de 2009

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I Seminário -Thales Ribeiro Gonçalves - 2009

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quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Leitura, Literatura & Internet

Todos podem postar comentários sobre as atividades realizadas com obras literárias durante o ano de 2009.

sábado, 6 de junho de 2009

"A ordem do Discurso"(1970 - aula inaugural do College de France)e um pouco da vida e obra de
Michel Foucault.


Paul-Michel Foucault nasceu em 15 de outubro de 1926. Filho de Paul Foucault, cirurgião e professor de anatomia em Poitiers, e Anna Malapert, Michel pertencia a uma família onde a medicina era tradição, pois tanto o avô paterno quanto o materno eram cirurgiões, mas MichelFoucaulttrilhou seu próprio caminho. Desde cedo demonstrou interesse pela história influenciado por um professor que teve ainda na escola, padre De Montsabert. Foucault era uma pessoa curiosa, o que fazia com que buscasse por conta própria suas leituras. Seu interesse pela filosofia não tardou a aparecer, aprofundando seus estudos com entusiasmo. Como pano de fundo, Foucault vivia os tormentos da Segunda Guerra Mundial. Decepcionando a expectativa de seu pai de que se tornasse médico, e apoiado pela mãe, Foucault segue seu rumo à filosofia. O fato de pertencer a uma família burguesa, possibilitou a Foucault um auxilio frente as suas necessidades econômicas. Foucault e o pai tinham uma relação conturbada, o que não se repetia com a mãe, com quem mantinha forte vínculo. Mudou-se para Paris em 1945, e retornava sempre que podia para visitar a mãe em Poitiers. Enquanto preparava-se para provas, concorrendo a vagas como aluno na École Normale da rue d'Ulm, Foucault entrou em contato com Jean Hyppolite, professor que lhe ensinou Hegel e reforçou seu encanto e sua vocação para a filosofia, marcando-o profundamente.
Em 1946, iniciou seus estudos na École Normale da rue d'Ulm. Foucault trazia com ele a característica de ser uma pessoa solitária e fechada, o que foi tornando-se cada vez mais forte, pois as relações e a competitividade por parte dos alunos desta escola fizeram com que ele recuasse ainda mais do contato social. Tornou-se uma pessoa agressiva e irônica, características estas que se mantiveram por toda sua vida. Em 1948 Foucault tentou suicídio, o que acabou levando-o a um tratamento psiquiátrico. Este impulso, retornou outras vezes em sua vida. Segundo o psiquiatra que o acompanhou, esta atitude estava ligada à dificuldades frente a sua homossexualidade, que começava a anunciar-se. Esta experiência colocou-o pela primeira vez em contato com a psiquiatria, psicologia e psicanálise, o que marcou profundamente a sua obra.
Esteve no Brasil em 1965 para conferência à convite de Gerard Lebrun, seu aluno na rue d'Ulm em 1954. Foucault faleceu no dia 25 de junho de 1984, em plena produção intelectual, o que fez com que sua morte fosse muito sentida. A causa da morte foi questão de muitas discussões, sendo levantada a hipótese AIDS. O autor publicou as seguintes obras:
"Doença mental e Psicologia" (1954);
"História da Loucura" (1961);
"Raymond Roussel" ( 1963 );
"O nascimento da clínica" (1963 );
"As palavras e as coisas"(1966); "A Arqueologia do saber" (1969);
"A ordem do discurso" (1970 - aula inaugural do College de France);
"Vigiar e Punir" (1977);
"A vontade de saber - História da sexualidade I" (1976);
"O uso dos prazeres - História da sexualidade II" (1984);
"O cuidado de si - História da sexualidade III" (1984).
Foucault foi e ainda é um filósofo respeitado e de sucesso. Sempre polêmico, tanto pelas suas idéias, quanto por seu comportamento, temperamento e sua opção sexual. Por ser uma pessoa extremamente estudiosa, culto, atraía admiração dos demais. Há grandes discussões à respeito de Foucault representar ou não a corrente estruturalista.
O pensamento de Foucault poderia ser localizado como parte do debate sobre modernidade, onde a razão iluminista ocupa o local de destaque. O homem, para este filósofo, ocupa um papel importante, uma vez que é sujeito e objeto de conhecimento. Considera o homem enquanto resultado de uma produção de sentido, de uma prática discursiva e de intervenções de poder. Foucault discute o homem, enquanto sujeito e objeto do conhecimento, através de três procedimentos em domínios diferentes: a arqueologia, a genealogia e a ética. Estes procedimentos constituem momentos do método. Para este autor o método dá-se diante do objeto à ser estudado e não ao contrário. Através do método arqueológico, este filósofo aborda os saberes que falam sobre o homem, as práticas discursivas, e não verdades em relação a este homem. Reivindica uma independência de qualquer ciência, pois acredita não poder localizar o homem através do que ela pode oferecer. Estabelece sim, inter-relações conceituais dos diferentes saberes e não de uma ciência.
A ética, para Foucault, é a possibilidade de apontar o sujeito que constitui à si próprio como sujeito das práticas sociais.Em abordagens feitas em seu livro "A Ordem do Discurso", ele inicia ressaltando que o poder advém só de nós, esse poder refere-se aos discursos.
O que percebe-se com a leitura é que em nossa sociedade a produção do discurso é controlada, selecionada e redistribuída por procedimentos de exclusão que é interdição, onde o indivíduo não pode falar de tudo em qualquer circunstância. Foucault destaca perfeitamente esses tipos de interdições. São três os tipos: tabu do objeto, ritual da circunstância, direito exclusivo do sujeito que fala. O discurso é aquilo por que, pelo que se luta, o poder do qual nós queremos nos apoderar, suas interdições revelam sua ligação com o desejo e poder.
Outros princípios de exclusão é a oposição entre razão e loucura, verdadeiro e falso, razoavelmente podemos comparar a vontade da verdade que gera o desejo de saber, de dominar o conhecimento. A verdade se deslocou do ato ritualizado para o próprio enunciado e seu sentido, ela se configura e se apóia por meio das instituições que são o suporte para a vontade da verdade.
Foucault fala de três grandes sistemas externos de exclusão que atingem o discurso: a palavra proibida, o que não pode ser dito; a segregação (separação) da loucura, aquilo que não tem validade social, que está à margem; a vontade da verdade que é a mais enfática, quebra paradigmas, confrontando o discurso na busca da verdade. Os internos são comentário (ligado ao acaso) atualiza e reforça o discurso, as narrativas, numa nova circunstância discurso; o autor, dá a alinguagem ficcional nós de coerência, limita os comentários dando margens a outros comentários, nele está o princípio de agrupamento de discurso que pode torná-lo fragmentado; disciplina é o controle da produção do discurso, em seu interior reconhece proposições verdadeiras ou falsas.
Foucault ressalta também as sociedades do discurso, a pertença doutrinária e o ritual. As sociedades do discurso buscam conservar ou produzir discursos (religiosos, judiciários, etc...) fazendo-os circular em um espaço fechado segundo regras. A pertença doutrinária questiona o tempo enunciado e o sujeito que fala, ao mesmo tempo que liga o indivíduo a certos discursos, ela o afasta dos demais por meio da sujeição. O ritual relaciona-se a comportamentos e gestos
As análises que Foucault proprõe são dispostas em dois conjuntos, o princípio da inversão: refere-se as formas de exclusão, limitação, apropriação. De outra parte a genealogia do poder (é movida pela vontade da verdade) é o princípio de onde parte todas as indagações do discurso.

Por Lila Léa Cardoso Chaves Costa.
Referência bibliográfica:
A ordem do discurso. Michel Foucault.
Aula inaugural no College de France,
pronunciada em 2 de dezembro de 1970.
Tradução: Laura Fraga de
Almeida Sampaio. Edições Loyola.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

CONSIDERAÇÕES SOBRE O LIVRO A AGUARRÁS DO TEMPO DE COSTA LIMA.

LUIS COSTA LIMA, em seu livro “A aguarrás do tempo”, faz abordagens críticas relacionadas à narrativa histórica e ficcional, questiona paradigmas, considera a reflexão epistemológica ou metodológica derivativa.
COSTA LIMA destaca duas escolas: Annales e Anglo-saxônica. A reflexão das Annales criticava a história positivista e maxista (relato cronológico em moldes científico), aqui COSTA LIMA cita historiadores, filósofos e teóricos como FOUCAULT, WEBER, HEMPEL, ARON e outros.
A visão anglo-saxônica verá a tese narrativista pelo modelo científico da história, ou seja, se opunha a história enquanto ciência porque seu objeto é dotado de variáveis, já não se poderia mais se basear no cotidiano, mas em leis, daí ela ser considerada ciência. Mais tarde a história vem a ser disciplina.
A escola de Annales (linha francesa), converte com o pensamento de Foucault quando enfatiza que o discurso está repleto de ideologias.
Em suma, a história era criticada por sua arbitrária pretensão a cientificidade, aqui está sua fragilidade, era contada pelas suas condições de produção sem verificar a veracidade dos fatos. Daí a neutralidade ser um mito para a história, pois na reunião desses fatos históricos está engendrada visões do historiador, do coletivo, fazendo surgir a história das mentalidades que está baseada no cotidiano e na visão coletiva. Novamente a visão de Foucault vem a tona, para Foucault o discurso é repleto de ideologias.
Um termo surge na abordagem de Costa Lima, a vontade da verdade, que é a necessidade de questionar a verdade nos discursos vigentes. Para VEYNE, seria tragicômico o historiador crer na verdade dos fatos, pois a história, segundo CERTEAU, é um relato não insento de infiltrações ideológicas.
Segundo Costa Lima, Foucault amplia as discussões a respeito da história numa dimensão ética. O discurso da história é um discurso impuro, carregado de valores, significações, impressões movidas por um intérprete. A narrativa histórica necessitaria de um aparato documental. HAYDEN WHITE formula a hipótese de que toda narrativa supõe uma ordenação, a partir de uma norma socialmente configurada. Em suma, a narrativa histórica se distingue das ciências por três fatores: não permitir a predicação, fundar-se na retrodição, ser de tipo quase causal.
A narrativa histórica não trata de objetos ficcionais, no entanto aborda os eventos reais por meio das formas ficcionais vigentes em uma cultura. A partir do momento que reproduzo há uma perda da verdade porque utilizo de um posicionamento ficcional, fazendo como uma figuração poética porque o narrador faz uso de arranjos.
Detemo-nos agora a explicitar a respeito da narrativa e da ficção com base em Kermode (crítico e historiador), a ficção abrange todo o artefato mental que produz sentido, é uma violência que “abre”, ele desdobra sua indagação remetendo ao mito, sendo uma violência que “fecha”, e o intérprete contribui para mitificar estabilizando a movência do ficcional.
Com GOFFMAN surge um elemento novo na ficção, o frame, este canaliza percepções e se constitui pela seleção de um conjunto de expectativas em torno de situações individuais e cotidianas, como regras de conduta, frames enquanto performance do discurso, havendo assim uma correlação também com Foucault, o discurso é performativo e traduz luta, poder, apoderação. Discurso e frame aqui estabelecem uma relação. O intento do ficcionista é criar um uma representação desestabilizadora do mundo marcado pelas múltiplas representações dos frames cotidianos. Obedece a regras pragmáticas próprias do discurso ficcional e através deste, desestabiliza o mundo fantasmagórico, faz o verossímil assumir o eixo central do texto.
Para COSTA LIMA, nenhum fato é histórico ou ficcional, ele se torna quando selecionado por um historiador ou ficcionista. Quanto ao discurso, cada um supõe regras a que sua prática se ajusta, o quadro traçado pelo historiador deve ser localizado no espaço e no tempo, o do ficcionista não necessita sê-lo

sexta-feira, 24 de abril de 2009

O Prazer do Texto – Roland Barthes, por Lila Léa Cardoso Chaves Costa. Especialista em Literatura Brasileira.




No livro O Prazer do Texto de Roland Barthes são feitas proposições acerca do prazer e da fruição, paralelo a um jogo de sedução e erotismo entre o texto e o leitor.
Segundo Barthes, de posse de um texto, não se pode assegurar que a leitura proporcione o desejo, visto que é imprevisível o desfrute, daí a leitura ser um jogo, uma procura que se adentra no texto.
Aqui, o significante, provoca a fruição porque remete ao novo, a uma perda, rompimento. O prazer em si contenta, é ora extensiva a fruição, ora a ela oposta. Na fruição percebe-se pólos antagônicos como repetição e contentamento, perda e busca, novo e velho, apreensão ou quebra do significado envolvendo aspectos ideológicos, históricos, filosóficos, culturais e psicológicos, proporcionando assim a construção de novos discursos, novas ideologias, sendo estas, sempre dominantes (assim como percebe-se em Foucault).
O texto de prazer, segundo Barthes, contenta, enche, da euforia, advém da cultura não rompe com ela, liga-se a uma prática confortável de leitura. A fruição é a perda o desconforto, provoca crise na relação com a linguagem. Somos remetido aqui a Derrida (também pós-estruturalista) ao verificarmos, quando ele diz, que um significante não remete a um significado mas sim a um outro significante, havendo um jogo de presença e ausência, uma busca contínua de signos.
O prazer pode definir-se por uma prática, por conseguinte uma crítica, a fruição não nos obriga ao prazer, podendo até aborrecer, é intransitiva, as vezes perversa, imprevisível, também não se enquadra na cultura de massa porque é individual, dialoga aqui com Benjamim quando questiona a massificação da arte que provoca a perda da aura, o que poderia assemelhar-se a perda da fruição, ao seu caráter associal.

Entrevista com Elias José...eterno em suas obras.

Entrevista realizada no ano de 1999 no CESC/UEMA em Caxias – Ma, durante o encontro do PROLER.
Entrevista com Elias José
Lila Léa – Professor Elias José, nós gostaríamos de falar um pouco sobre você, então, fale-nos um pouco de sua obra, sua vida.
Elias José – sobre minha obra e minha vida acho que dá pra fazer uma conferência, porque eu tenho 63 anos, já vivi muito. Minha obra é extensa tem 68 livros, acho que antes de terminar o ano eu já completo os 80, já vai sair mais duas obras, dois refabulando. É o seguinte, eu escrevo para adulto, escrevo para crianças e escrevo para jovens, eu comecei a escrever para adulto os 4 primeiros livros. Eu tenho 6 livros de contos, tenho 2 romances e um livro de poemas, ganhei inclusive o Prêmio Jabuti com um livro de contos, e mais, cada vez eu vou escrevendo menos para adulto e mais para crianças , vou me envolvendo mais talvez por estar envolvido com muitos projetos ligados a escola. Eu gosto mais de escrever para adultos, para crianças aliás, gosto muito mais que escrever para adultos, o mundo dos adultos está meio pesado, o mundo da criança é mais leve, mais solto.

Lila Léa – O que o senhor acha da utilização da poesia em sala de aula?
Elias José– Eu acho uma coisa renovadora e bacana, quer seja a poesia entrando na substituição das velhas cartilhas e na substituição de textos gastos que não dizem nada pro universo da criança, sobretudo da poesia brincalhona, poesia lúdica, não aquela poesia antiga, formativa que queria só ensinar bons modos por menino, amar a pátria, amar a mãe, amar é..., ser educado, dar bom dia, boa tarde, falar sobre trabalho, a árvore. Não que não seja necessário cuidar destes temas, mas eu acho que a poesia não é hora pra isso, a poesia é brinquedo com as palavras.

Lila Léa – Como o senhor acha que deve ser o trabalho com a poesia em sala de aula?
Elias José – Primeiro deve haver um trabalho muito grande de brinquedo com a palavra, que a palavra seja muito brincada, muito sentida, para que a gente descubra as cores da palavra, vê as palavras alegres, as tristes, as palavras velhas, as novas, a palavra gelada. Se por exemplo tem diferença né , ciúme, a palavra toda, vermelha tipo guerra , carnaval, amor, paixão. Então ir brincar para que eles sintam a idéia da palavra, a divisão de uma palavra, em outras, tirar palavras, até do próprio nome deles. Então eu acho que o primeiro trabalho é esse gosto pela palavra. Uma coisa que o menino gosta também é reler modificando o texto recolocando rimas, colocando novas rimas, então eu acho que é sempre um ato lúdico sempre cuidar do lúdico do poema infantil, fazer ele, brincar com as palavras pra sentir que isso é possível ser gostoso.

Lila Léa – Quais os conselhos que o senhor daria aos professores que adotarem a poesia em sala de aula para desenvolverem atividades.
Elias José – Primeiro conselho, eu acho meio esquisito, vamos dizer o que eu penso que deva ser, aí fica uma coisa muito pretenciosa se dizer que eu queria dar caminho. Eu acho que a primeira coisa, o professor não deve levar para a sala de aula um poema que não leu, releu, gostou. Se ele leu, releu, gostou, ele vai saber o ritmo certo de se ler esse poema na sala de aula, ele vai saber inclusive modificar o ritmo, falar aquele poema, vai saber promover uma leitura, jogral na sala de aula, mais meninos lendo juntos, então, vai ser uma festa. Se ele gosta do texto vai ser uma festa, agora, é preciso sempre um autor bom, deixar em “platô” que essa poesia que predominou no passado hoje já não tem mais. Que essa poesia moralista, pedagógica que quer só ensinar alguma coisa que é aquela poesia brinquedo, então eu cito pra você por exemplo: José Paulo Paes, não tem jeito de não conhecer. Pedro Bandeira, não tem jeito de não conhecer, pra criança um pouco mais Roseana Murray, pra meninos maiores Bartolomeu Campos Queiroz, Carlos Queiros Teles, são autores fundamentais, eu estou esquecendo de alguns, é que a memória da gente nem sempre é muito boa, né, Maria Dinorah. Então é preciso ir atrás desses livros e você tem que gostar do poema pra levar pra sala de aula. Se você não gostou, não achou gracioso, bonito, inteligente, não leva porque você vai “amassar” o poema.

Lila Léa – Nós utilizamos muitas poesias e músicas como aquela do leãozinho “ gosto muito de te ver..” e a partir disso nós mostramos que as músicas tem a estrutura muito parecida com a poesia, e a partir disso nós trabalhamos também com músicas, então qual a sua visão disso?
Elias José - Há mais de 20 músicas colocadas em poemas meus. São 3 alunas minhas separadamente cada uma.
Desculpe, eu falei 3 alunos porque um é Adalberto, rapaz, a outra Rita de Cássia e a outra Valéria Samara. Eles colocaram músicas e disseram que não tiveram a mínima dificuldade de colocar música no poema, porque o poema já é a música, o poema já é musical. Eu passei, por exemplo, um poema com vocês a pata, pedindo pra cada um fazer porque eu tenho certeza que vai sair, senão, eu não pedia uma coisa que seria um exagero. Então a própria criança pode criar a música para o poema. Tem um pagodeiro, um poema meu pagodeiro, que tem no livro “segredinhos de amor”, eu já ouvi no país inteiro criança cantar esse poema como conta a 1ª estrofe, como aquele, não sei se você conhece: “ lá vem o Ju-ca-cá, de perna tor-ta-tá, dançando val-sa-sá, com marico-ta-tá”... aí eu fui fazendo rock, bolero, e tanto ritmos mais, baião, samba...


Lila Léa - Como o senhor definiria leitura, produção de texto e poesia?
Elias José - Leitura pra mim é uma coisa muito ampla, eu acho, por exemplo, que agente tem que levar um menino a ler-se, conhecer sua realidade, a ler seu interior, a ler o seu físico, a ler o colega, ler o corpo do outro escrever, ver a roupa do outro escrever, ler os olhos, ler a realidade da escola e escrever, ler o quadro de pintura, ler um selo, ler um mapa e aí também ler um texto literário mais não é a única leitura ao texto literário, ao texto do livro didático, ao texto de escola. Eu estou falando em ler os vários textos da vida, cores, cheiros nas formas das coisas. Então pra mim leitura tem sentido amplo. A produção de texto eu acho que tudo deve levar a produção de texto. Você pode contar uma história e dizer assim: escreva alguma coisa sobre esse texto, pode recontar o texto, pode fazer uma apreciação, pode contar a parte que mais gostou, pode falar que não gostou mais exija o por quê. Então eu acho que a escola tem que ta toda produzindo texto em qualquer disciplina, não só em língua portuguesa não, porque é lendo e produzindo que eles vão dominar a língua portuguesa. Não é com gramática, nem abrindo e fechando dicionário. Dicionário agente abre e fecha na hora que precisa dele. Poesia, também eu acho que deve ser ação da poesia da vida, a poesia que há na natureza, nas flores, nas árvores, nas plantas, no cosmo, no amanhecer, no anoitecer, na noite de lua cheia, no arco-íris, na chuva que cai, também o contrário na falta de chuva, no calor, no frio, nos elementos da poesia da realidade. Pra depois ele aprender que tudo que o poeta pôs no poema não é nada mais do que uma leitura do mundo, também dentro do ponto de vista poético, assim sim, transformado em palavras.

Lila Léa - Bem, dentro da nossa proposta, nós trabalhamos com várias poesias suas, quando nos demos conta lá estava o Elias José em quase todas as atividades, em quase todas as aulas, embora nós não tivéssemos acesso a alguns livros, então eu queria que o senhor dissesse intimamente como se sente tendo sido abraçado com tanto amor pelas crianças, nós trabalhamos com 4ª e 5ª série em toda nossa proposta.
Elias José - Olha, pra mim eu estou vivendo assim numa fase muito encantada da minha vida de escritor. A minha vida de escritor pra adulto foi uma vida até certo ponto intelectual demais, entendeu? Fechada demais, sofisticada demais, aquele ponto muito elaborado, aquela coisa de leitura mesmo, então, à medida que eu tomei a literatura infantil como um brinquedo que eu poderia brincar, ser menino outra vez e eu vi que as crianças aceitaram isso, e as crianças do Brasil inteiro. Bem meus livros esgotam facilmente, eu tenho quase 2 milhões de livros vendidos, isso tudo é muito bom. Interessante que eu tenho histórias também, muitas histórias, aliás, tenho mais livros de história que de poesia, mas quase sempre as crianças preferem mais poesia. Quase todo livro didático que se abre hoje tem uma poesia minha. Isso me encanta porque eu não fiz pra gravar na minha gaveta, eu sou vaidoso. Eu fiz pra poder mostrar, eu tenho vaidade, eu tenho orgulho desse trabalho que eu escolhi, quando a gente escolhe o trabalho e ele deu certo, maravilha, né? Vamos soltar foguetes, dá viva, rezar pra durar.

Lila Léa - Eu gostaria de deixar registrado aqui nossa mesma gratidão e certeza de que o senhor melhorará cada vez mais e venderá cada vez mais livros, e dizer que estamos mais apaixonadas pela sua obra. Obrigada.
Elias José - Obrigado vocês também, sucesso pra vocês, espalhem bastantes poesias. E que leitoras passem a ser produtoras também de poesias, como aconteceu no livro “a troca da lógica”... que ela conta experiências de criança que brincava com livro e um dia ela brincou também de produzir livros.

sábado, 18 de abril de 2009

O New Cristicism nos Estados Unidos.

O New Cristicism surgiu no decorrer dos anos 30 no Sul dos Estados Unidos, num momento em que a crítica marxista encontrava-se desacreditada, para em seguida ocupar uma posição preponderante nos estudos literários entre 1940 e 1950. Jonh Crowe Ranson batizou oficialmente o movimento em 1941 quando nomeou seu livro: The New Cristicism. Além de Ranson torna-se necessário citar os nomes de Allen Tate, Cleanth Brooks, Roberth Penn Warnen, Yvor Winters, kinneth Burke e R.P. Blackmur que contribuíram para o movimento. Dentre os mais importantes pode-se citar T.E. Hulme, T.S. Eliot, Ezra Pound, I.A. Richards e William Empson.
Eliot tende a adotar a posição extremista de pensar que só merecem ser lidos os críticos que praticam bem a arte de que tratam, realça seu status de poeta crítico, bem como os de Hulme e Pound, que reagem contra a moda do romantismo. A tendência antibiográfica deve sua origem a Eliot que escreveu: “ A crítica honesta e a sensibilidade literária não se interessam pelo poeta, e sim pela poesia”, numa famosa teoria de dissociação da sensibilidade”. I. A. Richarde e seu discíspulo W. Empsom consagraram estudos de automatismos, fundado sobre a análise das reações do leitor individual ante o objeto literário, acreditam que do poemas partam linhas de forças que se transformam em sinestesia – “harmonia e equilíbrio dos impulsos”. Empson critica a divisão efetuada por Richards, divisão que leva o leitor a aprender separadamente duas coisas que deveriam ser captadas numa só unidade. Utiliza com maestria termos como: ironia, tensão e dramático. O estudo da ambiguidade, análise da polissemia e dos diferentes níveis de significação, abriram estudos posteriores sobre a metáfora.
Os New Critics lutaram vigorosamente contra o desenvolvimento da sociologia e da antropologia cultural. A aplicação de tais ciências aos estudos da literatura leva a um “relativismo crítico” que se recusa a tratar as obras de um período a não ser segundo os critérios desse mesmo período, impedindo os literatos de formular julgamentos “normativos”. Os valores absolutos procurados pelos New Critics eram postos em questão por diferentes formas de positivismo e pela crítica marxista, que reduzia a literatura a um conjunto de normas sociológicas e políticas. W. K. Wimsatt cita que a falácia intencional e afetiva leva o poema, enquanto objeto de apreciação crítica, a desaparecer. O apelo feito pelas críticas modernas à intenção do autor provoca o afastamento da composição interna do poema. Também contribuíram para abolir a destruição tradicional entre fundo e forma, consequentemente um dos principais objetivos da leitura microscópica que reside nos complexos pontos de vistas e suas tonalidades particulares, na exploração da polivalência das palavras e suas associações e posição do locutor em relação a cada um dos diferentes níveis de significação. Wimsatt acrescenta que a função da crítica objetiva é de auxiliar os leitores a atingir uma compreensão intuitiva e completa dos poemas, reconhecer os bons poemas, tarefa antes ilusória que proibida.
Os New Critics se perderam na fenomenologia que tenta analisar a obra de arte sem referência. Ainda que não constitua uma teoria viável, teve uma profunda e eficaz influência devido a sua maneira de abordar o objeto literário devido aproximação intrínseca com o mesmo, bem como aplicação mecânica de alguns princípios e ignorância do contexto, exatidão, precisão e nitidez na descrição, exigência de objetividade no tratamento da obra literária, tendência anti-biográfica e a-histórica, dái realizar leituras microscópicas utilizando noções de ambigüidade, ironia, paradoxo e metáfora, estabelecendo categorias de classificação e critérios absolutos para o julgamento crítico da obra literária. Seu declínio foi marcado por uma série de controvérsias tanto no centro como fora do movimento, pelo fato de não admitirem nenhuma outra informação além da contida no "texto" por eles estudado, nenhuma investigação precisa, seguindo seus preceitos. Além disso, estudar uma passagem de prosa ou poesia sob os moldes do New Criticism, requer cuidado, exige um exame detalhado da obra, já que nenhuma outra informação é permitida - uma atitude rígida pela qual os New Critics foram criticados. Suas leituras intimistas podiam também ser consideradas como uma tentativa conservadora de isolar o texto como uma coisa sólida, algo imutável, protegido de quaisquer influências externas.