quarta-feira, 29 de abril de 2009

CONSIDERAÇÕES SOBRE O LIVRO A AGUARRÁS DO TEMPO DE COSTA LIMA.

LUIS COSTA LIMA, em seu livro “A aguarrás do tempo”, faz abordagens críticas relacionadas à narrativa histórica e ficcional, questiona paradigmas, considera a reflexão epistemológica ou metodológica derivativa.
COSTA LIMA destaca duas escolas: Annales e Anglo-saxônica. A reflexão das Annales criticava a história positivista e maxista (relato cronológico em moldes científico), aqui COSTA LIMA cita historiadores, filósofos e teóricos como FOUCAULT, WEBER, HEMPEL, ARON e outros.
A visão anglo-saxônica verá a tese narrativista pelo modelo científico da história, ou seja, se opunha a história enquanto ciência porque seu objeto é dotado de variáveis, já não se poderia mais se basear no cotidiano, mas em leis, daí ela ser considerada ciência. Mais tarde a história vem a ser disciplina.
A escola de Annales (linha francesa), converte com o pensamento de Foucault quando enfatiza que o discurso está repleto de ideologias.
Em suma, a história era criticada por sua arbitrária pretensão a cientificidade, aqui está sua fragilidade, era contada pelas suas condições de produção sem verificar a veracidade dos fatos. Daí a neutralidade ser um mito para a história, pois na reunião desses fatos históricos está engendrada visões do historiador, do coletivo, fazendo surgir a história das mentalidades que está baseada no cotidiano e na visão coletiva. Novamente a visão de Foucault vem a tona, para Foucault o discurso é repleto de ideologias.
Um termo surge na abordagem de Costa Lima, a vontade da verdade, que é a necessidade de questionar a verdade nos discursos vigentes. Para VEYNE, seria tragicômico o historiador crer na verdade dos fatos, pois a história, segundo CERTEAU, é um relato não insento de infiltrações ideológicas.
Segundo Costa Lima, Foucault amplia as discussões a respeito da história numa dimensão ética. O discurso da história é um discurso impuro, carregado de valores, significações, impressões movidas por um intérprete. A narrativa histórica necessitaria de um aparato documental. HAYDEN WHITE formula a hipótese de que toda narrativa supõe uma ordenação, a partir de uma norma socialmente configurada. Em suma, a narrativa histórica se distingue das ciências por três fatores: não permitir a predicação, fundar-se na retrodição, ser de tipo quase causal.
A narrativa histórica não trata de objetos ficcionais, no entanto aborda os eventos reais por meio das formas ficcionais vigentes em uma cultura. A partir do momento que reproduzo há uma perda da verdade porque utilizo de um posicionamento ficcional, fazendo como uma figuração poética porque o narrador faz uso de arranjos.
Detemo-nos agora a explicitar a respeito da narrativa e da ficção com base em Kermode (crítico e historiador), a ficção abrange todo o artefato mental que produz sentido, é uma violência que “abre”, ele desdobra sua indagação remetendo ao mito, sendo uma violência que “fecha”, e o intérprete contribui para mitificar estabilizando a movência do ficcional.
Com GOFFMAN surge um elemento novo na ficção, o frame, este canaliza percepções e se constitui pela seleção de um conjunto de expectativas em torno de situações individuais e cotidianas, como regras de conduta, frames enquanto performance do discurso, havendo assim uma correlação também com Foucault, o discurso é performativo e traduz luta, poder, apoderação. Discurso e frame aqui estabelecem uma relação. O intento do ficcionista é criar um uma representação desestabilizadora do mundo marcado pelas múltiplas representações dos frames cotidianos. Obedece a regras pragmáticas próprias do discurso ficcional e através deste, desestabiliza o mundo fantasmagórico, faz o verossímil assumir o eixo central do texto.
Para COSTA LIMA, nenhum fato é histórico ou ficcional, ele se torna quando selecionado por um historiador ou ficcionista. Quanto ao discurso, cada um supõe regras a que sua prática se ajusta, o quadro traçado pelo historiador deve ser localizado no espaço e no tempo, o do ficcionista não necessita sê-lo

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