quarta-feira, 30 de março de 2011

Simone de Beauvoir - Cronologia


9 de janeiro
Nasce, em Paris, no boulevard du Montparnasse 103
, Simone-Lucie-Ernestine-Marie Bertrand de Beauvoir.
Seu pai, Georges Bertrand de Beauvoir, acredita ainda pertencer à aristocracia francesa, mas, nesta época, a decadência já se faz sentir. Sua mãe, Françoise Brasseur, provinha de uma família da alta burguesia, porém à beira da ruína. Em virtude de um abastado passado comum, os pais de Simone a educarão com a firme idéia de que ela faz
ia parte de uma certa elite.

Sua única irmã, Hélène (apelidada de Poupette), nascerá dois anos mais tarde.

Boulevard du Montparnasse 103
Em outubro, Beauvoir inicia seus estudos no Cours Désir, uma instituição católica particular, na qual estudará dos 5 aos 17 anos.
Sempre que vai à escola, em companhia da babá, Simone é obrigada a passar diante da agitada clientela do La Rotonde (bar-restaurante no térreo do prédio em que ela mora), um ambiente nada apropriado a uma menina educada segundo princípios católico-burgueses. A despeito disso, a pequena Beauvoir sente-se cativada pelo vozerio barulhento, pelos rostos e silhuetas dos freqüentadores: um espetáculo da vida humana com seus dramas, comédias e encantos.
Simone aos 5 anos
Em agosto de 1914 os alemães declaram guerra. O pai de Simone parte para o front em outubro, mas um ataque cardíaco o traz de volta três meses depois. A guerra concede a Simone um pai mais atencioso: Georges de Beauvoir estimula em sua filha o culto à literatura, incutindo-lhe a idéia “de que não havia no mundo nada mais belo que ser escritor”. Françoise de Beauvoir partilha com o marido o amor aos livros e estimula Simone a escrever histórias.
Aluna extremamente dedicada, tudo interessa e causa profunda admiração a Simone, que demonstra uma curiosidade ilimitada. Durante toda a guerra ela não falta um só dia às aulas. Beauvoir adora estudar, por trás da vontade de aprender há o desejo de conquistar o mundo através do tempo e do espaço. A leitura será sempre para ela uma grande aventura, farta colheita de imagens, idéias e prazeres. Mas Simone não tarda a descobrir que existe uma felicidade bem maior do que ler: escrever.
Simone com os pais e a irmã
Aos dez anos Simone conhece Zaza (Élizabeth Lacoin), que acabava de entrar para o Cours Désir. De cabelos curtos, com aspecto de rapaz, Zaza provoca em Simone uma admiração imediata por seu desembaraço e desenvoltura. De espírito cáustico, cínica, Zaza ridicularizava todo mundo com prazer, inclusive a si mesma. Desprezava a humanidade, que lhe parecia pouco apreciável e demonstrava desprezo ainda maior pelas pessoas que só respeitavam o dinheiro e as dignidades pessoais. Toda a hipocrisia a revoltava. Simone ouve sua nova amiga deslumbrada, pois Zaza se atrevia a dizer bem alto o que Beauvoir apenas pensava.
Desenvolve um profundo sentimento de amizade por Zaza, amor-admiração que modifica fortemente sua visão de mundo, fazendo-a se tornar mais audaciosa, segura de si e insubordinada.
Em 1919, em virtude de problemas financeiros, a Família de Simone precisa deixar o imóvel do boulevard du Montparnasse por outro bem mais modesto, na rue de Rennes.
As relações entre Beauvoir e seu pai ficam tensas, o ambiente familiar pesado. Ela começa a perceber as contradições de Georges de Beauvoir, cada vez mais amargurado e arrogante, chegando a ser hostil com as filhas, sobretudo com Simone.
Aos 15 anos — já não mais acreditando em Deus — ela tem plena consciência do que será quando crescer: "uma escritora", não hesita em afirmar quando indagada a respeito. Em meio a constantes conflitos de ordem familiar, esta certeza lhe dá grande segurança interior.
Zaza e Simone
Simone passa com a menção bien no bacharelado de Latim-Letras e com menção très bien no bacharelado de Matemática Elementar. Decide que será professora até se tornar escritora. O pai de Beauvoir não se opõe a suas modestas pretensões, já que o magistério representa segurança, entretanto, sente-se humilhado acreditando que a filha é a encarnação de seu próprio fracasso. Ele considera Simone pobre e feia demais para arranjar marido, e, na época, o casamento era algo fundamental na vida de uma mulher. Por causa das idéias do pai, Simone torna-se uma jovem oprimida por sua inteligência fora do comum. Georges de Beauvoir acaba pressionando a filha a obter não apenas 2 licenciaturas, mas 3: Letras, Matemática e Filosofia. Simone matricula-se no Institut Catholique para conseguir um diploma em Matemática, e noInstitut Sainte-Marie de Neuilly para a licenciatura em Letras.
Em 1926 entra para a Sorbonne e dedica-se com afinco ao estudo da Filosofia, que fortalece sua tendência em conceber o mundo em sua totalidade. Obsedada pela finitude da vida, Simone tem apenas um lema: vencer depressa.
Estabelece relações de amizade com Maurice Merleau-Ponty.
Em 1928, concluída a licenciatura em Filosofia, Beauvoir decide preparar sua agrégation (admissão por concurso ao título de professora-titular de nível superior), verdadeiro desafio para uma aluna da Sorbonne.
Começa a freqüentar alguns bares: La Rotonde, Jockey, Dôme.
Inicia amizade com René Maheu, que lhe dará o apelido de CASTOR, por causa da similaridade entre as palavras Beauvoir eBeaver (castor em inglês), e pelo espírito construtor que o animal simboliza.
Simone aos 17 anos
René Maheu aos 18 anos
Jean-Paul Sartre, também aluno da Sorbonne, impressionado com a beleza, inteligência e a voz rouca de Simone, envia-lhe, por intermédio de René Maheu, uma caricatura de Leibniz feita durante uma palestra, como forma de aproximação. Terminadas as provas escritas para a agrégation, Sartre, novamente usando Maheu como intermediário, convida Beauvoir a estudar em grupo para os exames orais. Ela aceita, e durante os próximos 15 dias separam-se apenas para dormir. Sartre é aprovado em 1º lugar na agrégation, Simone, com uma diferença de apenas 2 pontos, é a 2ª colocada — tornando-se a mais jovem agrégée da França.
Em setembro, Beauvoir deixa a casa dos pais em troca de um quarto alugado na casa da avó materna, na av. Denfert-Rochereau.
Ensina Latim num emprego temporário no Lycée Victor-Duruy.
Sartre e Simone estão apaixonados, entretanto, em vez de pedi-la em casamento, ele lhe propõe um pacto no qual monogamia e mentira não teriam lugar. Sartre acredita que antes de serem amantes, eles eram escritores, e como tal precisariam conhecer a fundo a alma humana, multiplicando suas experiências individuais e contando-as, um ao outro, nos mínimos detalhes. Entre Simone e Sartre o amor seria necessário, com as demais pessoas, seria contingente. Beauvoir aceita o pacto, pois ele está de acordo com suas próprias convicções.
Morte de Zaza em decorrência de problemas causados pelas objeções dos pais a seu casamento com Maurice Merleau-Ponty. Profundamente abalada, Simone acredita que poderia ter o mesmo destino que sua amiga se Georges de Beauvoir não tivesse perdido a fortuna.
Simone começa a freqüentar outros bares e cafés da cidade: La Coupole, Café de Flore, Les Deux Magots.
Diário 1929 - clique para ampliar
Sartre e Beauvoir em 1929
Beauvoir estabelece laços de amizade com Raymond Aron, Paul Nizan, Pierre Guille e Madame Morel.
Em novembro, Sartre parte para Saint-Cyr a fim de cumprir o serviço militar, como meteorologista. Após um breve período de treinamento, ele é designado para Saint-Symphorien. Esta separação faz com que Simone e Sartre iniciem uma intensa troca de cartas.
René Maheu rompe com Beauvoir por causa de uma viagem de carro que ela faria apenas em companhia de Guille pela França durante 10 dias — atitude, na época, nada adequada a uma moça bem-comportada.
Diário 1930 - clique para ampliar

Em 1931, Simone é nomeada professora em Marseille, e Sartre é nomeado para o Havre. Este afastamento provoca em Beauvoir tamanha contrariedade que Sartre lhe propõe casamento. Ela se recusa, pois não queria aderir aos moldes das obrigações familiares e sociais, nem alterar a originalidade inestimável de suas relações pessoais. Aos 23 anos, Beauvoir prefere Sartre em liberdade.
No verão, os dois partem para a Espanha a convite de Fernando Gerassi, a fim de aproveitarem as férias.
De volta a Marseille, Simone começa a chamar a atenção, no LycéeMontgrand
, por sua forma provocadora de lecionar.
No "isolamento" de Marseille, Beauvoir aproveita para provar a si mesma que é capaz de se despolarizar intelectualmente de Sartre.
Em outubro de 1932, a fim de ficar mais perto de Paris,
Simone consegue uma transferência para o Lycée Jeanne d'Arc em Rouen (a uma hora de trem do Havre). Logo se estabelece uma rotina: todas as quintas Sartre vai a Rouen, e os dois passam os fins de semana em Paris.
Simone conhece Colette Audry, também professora na mesma escola, e logo se tornam amigas. Beauvoir rejeita o quinto romance que havia acabado de escrever, insatisfeita com o resultado final. Troca idéias com Sartre e sugere que ele faça mudanças no livro que está escrevendo (A Náusea). Simone também organiza as "novas teorias" de Sartre, que mais tarde se transformariam em A Transcendência do Ego. Em Rouen, no Havre, em Paris, o trabalho em comum prossegue em conversas, nas cartas e nos cadernos de notas de que ambos têm conhecimento recíproco.
No outono de 1933, Sartre consegue uma bolsa de um ano noInstitut Français de Berlin, onde estudará Husserl e Heidegger.
Em fevereiro de 1934, Beauvoir visita Sartre em Berlim, a fim de certificar-se de que a nova paixão dele (pela esposa de um amigo) não a ameaça.
De volta a
Rouen, Simone acaba percebendo entre suas alunas Olga Kosakiewicz, "a pequena russa", por quem rapidamente se afeiçoa, não demorando a ser correspondida. Com o retorno de Sartre à França, Beauvoir, ele e Olga iniciam uma espécie de triângulo amoroso, o Trio. Jacques-Laurent Bost, ex-aluno de Sartre no Havre, acaba se juntando ao grupo de amigos de Simone e Sartre,"la petite famille", que fazem do Hôtel Le Petit Mouton seu quartel-general.

Beauvoir em 1933, no Lycée Jeanne d'Arc, em Rouen
Sartre (à direita) e alguns de seus alunos do Lycée François I, no Havre, em 1934-35
Olga Kosakiewicz

Simone e Sartre "adotam" Olga, responsabilizando-se por seus estudos, que não tardam a fracassar. O relacionamento do Trio experimenta seu apogeu, e logo em seguida vem o declínio. Olga inicia um envolvimento com Bost. Beauvoir começa a escrever uma série de contos e novelas (que mais tarde comporiam o livroQuando o Espiritual Domina).
No verão de 1936, transferida para Paris, Simone começa a lecionar no Lycée Molière, instalando-se no Hôtel Royal Bretagne. Sartre é transferido para Laon, mas o Trio e la petite famille continuam a existir, fazendo do Dôme seu novo ponto de encontro.
Vítima de uma congestão pulmonar, Beauvoir é hospitalizada. Para uma convalescença apropriada ela se muda para um hotel mais confortável (e caro) na rue Delambre .
Em 1937, durante uma viagem pelos Alpes, Simone envolve-se com Bost, que lhe fazia companhia — o que, de certo modo, acaba provocando a dissolução definitiva do Trio.

Incentivada por Sartre a colocar mais de si mesma em seus livros, Beauvoir começa a escrever A Convidada.

Simone de Beauvoir no Lycée Molière, em junho de 1937

Os editores Gallimard e Grasset se recusam a publicar Quando o Espiritual Domina (que só será editado mais de quarenta anos depois), mas Simone não se deixa abater: continua a escrever.
A Náusea, de Sartre, é publicado. Ele dedica seu livro "ao Castor".
Beauvoir viaja ao Marrocos em companhia de Sartre.
No Lycée Molière, Simone inicia amizade com uma de suas alunas preferidas: Bianca Bienenfeld (Lamblin).
Começa a freqüentar o Café de Flore, por indicação de Olga, e passa a ter uma intensa vida cultural.
Diversos acontecimentos políticos fazem Beauvoir se convencer de algo em que não acreditava: a iminência da guerra. Até então desinteressada de qualquer atividade política, ela se vê levada a tomar uma posição.

Beauvoir em 1938
Início de um novo trio: Beauvoir, Sartre e Bianca. Entretanto, em virtude da guerra, o relacionamento é bruscamente interrompido.
Em 3 de setembro a Segunda Guerra Mundial é declarada. Sartre é convocado para o exército, Bost também.
Numa Paris subitamente vazia, Simone começa a escrever um diário específico sobre este período, do qual uma parte será incorporada, bem mais tarde, em A Força das Coisas.
Dispensada de suas funções no Lycée Molière desde a declaração de guerra, Beauvoir consegue, em outubro, um lugar como professora no Lycée Camille-Sée e também no Lycée Henri-IV. Nestas instituições suas aulas eram freqüentemente interrompidas pelo alertas de bombardeio. Muda-se para o Hôtel du Danemark, na rue Vavin.
Apesar de não ser casada com Sartre, Simone obtém um salvo-conduto que lhe permite visitá-lo em Brumath. No tempo em que passam juntos, lêem o que haviam escrito cada um na ausência do outro.
Sartre com seu uniforme de guerra, em 1939
Em fevereiro Sartre volta a Paris, de licença. O mesmo ocorre em maio. Em junho, pouco antes da ocupação alemã, Simone foge de Paris, pegando carona no carro da família de Bianca. Hospeda-se na casa de Madame Morel, onde não fica por muito tempo.
Sartre, capturado, é levado para um campo alemão de prisioneiros de guerra.
De volta a Paris, Beauvoir retorna ao hotel em que estava antes da fuga e descobre que a proprietária, acreditando que ela não mais voltaria, se desfez de todos os seus pertences. Ela passa então a morar no quarto de sua avó, que havia ocupado entre 1929 e 1931.
No outono, o racionamento torna a vida em Paris bastante difícil, ainda mais agravada pelo inverno mais rigoroso do século. Simone passa suas tardes refugiada na Bibliothèque Nationale, estudando a fundo Hegel e Kierkegaard.
Morte de Nizan.
Bibliothèque Nationale de France, em Paris


Em março de 1941, Sartre volta a Paris. Formação de um grupo sob o lema Socialisme et Liberté (Socialismo e Liberdade) composto por escritores e intelectuais, dentre os quais Beauvoir e Sartre, com a tarefa de reunir e disseminar notícias, buscando apoio para a Resistência. A primeira reunião do grupo acontece no quarto de Simone, no Hôtel Mistral. A experiência da guerra provoca em Beauvoir e Sartre o sentido de responsabilidade e solidariedade — as pedras fundamentais da moral existencialista. O Socialisme et Liberté, entretanto, tem fraca atuação e logo é dissolvido. Beauvoir percebe que, para ela, a única forma possível de resistência é a literatura, e escrever passa a ser o maior objetivo de sua vida.
Em julho, morre Georges de Beauvoir, pai de Simone.
Em 1942 Gallimard aceita publicar o romance de Beauvoir, mas rejeita o título Légitime Défense (Legítima Defesa). Simone então propõe L'Invitée (A Convidada).
Após longas férias em 1942, que fazem o proprietário do Mistralacreditar que Beauvoir não mais voltará, ela precisa encontrar outro quarto de hotel, já que havia perdido sua vaga. Simone consegue um quarto no Hôtel Aubusson, na época, uma espécie de pardieiro sem nenhum conforto, onde ela viverá até julho de 1943. Beauvoir divide seu quarto com dois estudantes, Nathalie Sorokine e Bourla. Começa a escrever O Sangue dos Outros.

Hôtel Mistral
O filósofo Gabriel Marcel aplica o termo "Existencialismo" ao conjunto de idéias que a obra de Sartre e Beauvoir corporifica.
Em junho, em virtude de uma denúncia da mãe de Nathalie Sorokine, que acusa Simone de corrupção de menores, Beauvoir é excluída da universidade, perdendo seu salário e não podendo mais lecionar em lugar algum da França. Embora nada tenha sido provado (devido a uma estratégia muito bem ensaiada pelos membros da petit famille) e o caso encerrado, o reitor da Sorbonneacha inadmissível manter Beauvoir no corpo docente. Ela não era casada e vivia há anos em concubinato com Sartre; não tinha domicílio fixo, residia em hotéis, corrigia os trabalhos das alunas em cafés e dava aulas sobre os escritores homossexuais Proust e Gide; além disso, Simone demonstrava profundo desprezo por toda a disciplina moral e familiar. Beauvoir será readmitida depois da guerra, entretanto, decidirá não mais voltar a lecionar. Para ganhar a vida, ela consegue um trabalho mensal na Radio-Vichy.
A convite de Jean Grenier, Simone escreve Pyrrhus et Cinnéas, seu primeiro ensaio filosófico, que logo é aceito por Gallimard.
A Convidada é laçado em agosto, causando grande alvoroço por ser considerado um livro "baseado" na relação entre Beauvoir, Sartre e Olga, a quem o livro foi dedicado. Repentinamente, Simone torna-se uma celebridade.
Resolve mudar-se para um quarto mais confortável no Hôtel Louisiane, onde viverá até fins de 1946.
Termina O Sangue dos Outros e começa a escrever seu terceiro romance, Todos os Homens são Mortais.
Conhece Albert Camus, com que desenvolve laços de amizade, chegando a participar, juntamente com Sartre, de algumas reuniões clandestinas do Combat, jornal dirigido por Camus.
Simone de Beauvoir em 1943
L'Invitée (A Convidada)
Beauvoir participa, na casa de Michel Leiris, da leitura de uma peça de teatro escrita por Picasso: Le Désir Attrapé par la Queue. Conhece Salacrou, Bataille, Limbour, Lacan, Picasso e Braque.
Entre março e abril acontecem as fiestas, agitados encontros que se estendem pela madrugada da Paris ocupada. Para tanto, la petite famille se reveza com outros amigos na escolha dos locais de encontro: o apartamento ou quarto de hotel de um deles.
Entre abril e julho Simone escreve sua única peça Les Bouches inutiles (As Bocas Inúteis), que se mostra um grande fracasso quando encenada, saindo de cartaz depois de 50 apresentações.
Em agosto de 1944 Paris é libertada, mas a guerra continua.
Pyrrhus et Cinnéas é lançado pela Gallimard, sendo bem acolhido.
Beauvoir conhece Hemingway, e faz amizade com Nathalie Sarraute e Violette Leduc.
Em 1945, juntamente com Sartre, Simone torna-se uma das fundadoras da revista Les Temps Modernes, que permanecerá no centro da vida intelectual francesa pelos próximos 25 anos, tomando posições radicais e de esquerda nas frentes nacional e internacional.
Viagem a Portugal, de onde escreve vários artigos para o Combat.
O Sangue dos Outros, é publicado em setembro, tornando-se de imediato sucesso de crítica e de público.
Beauvoir no Café de Flore, em 1944
No fim de janeiro de 1946, Beauvoir viaja para a Tunísia — seu primeiro vôo — a convite da Aliança Francesa para dar uma série de palestras em Túnis e Argel.
Nesta época, Simone se sente "ameaçada" por Dolores Vanetti, a nova paixão de Sartre, que estava pela segunda vez nos Estados Unidos. Sartre tenta tranqüilizar Beauvoir, sem muito sucesso.
Simone começa a escrever Por uma Moral da Ambigüidade.
No verão de 1946, estimulada por Sartre, Simone começa a pensar em escrever sobre a condição feminina.
Em outubro conhece Arthur Koestler, amigo íntimo de Camus.
Todos os Homens são Mortais é lançado em novembro.
Em 1947, Por uma Moral da Ambigüidade é publicado na revistaLes Temps Modernes e, posteriormente, pela Gallimard.
De 27 de janeiro a 20 de maio Beauvoir visita os Estados Unidos para uma tournée de conferências em universidades a convite de Philippe Soupault, escritor e jornalista francês. Em toda parte, a imprensa americana acentua que Simone vê o existencialismo como um otimismo e que o pratica dissipando as mentiras e os mitos. Numa passagem por Chicago, no fim de fevereiro, Beauvoir conhece Nelson Algren, por quem não tardará a desenvolver uma intensa paixão, que será correspondida. Começa a tomar notas de suas impressões sobre os Estados Unidos. Observa que as mulheres americanas são muito menos livres do que ela acreditava.
De volta a Paris, termina seu caso com Bost, e começa a trabalhar numa "reportagem" sobre a América (que viria a ser L'Amérieque au Jour le Jour). Paralelamente, toma notas para um ensaio sobre a condição feminina.
Em setembro, Simone faz sua segunda viagem aos Estados Unidos, passando duas semanas em Chicago com Algren. Nelson a pede em casamento, Beauvoir recusa.
Simone em Paris, em 1947
Nelson Algren
Em janeiro, Simone entrega a sua editora o manuscrito deL'Amérieque au Jour le Jour, mergulhando imediatamente em seu ensaio sobre as mulheres.
Em maio, fragmentos de O Segundo Sexo começam a ser publicados na revista Les Temps Modernes. Simone prossegue escrevendo a continuação do ensaio.
Vai novamente aos Estados Unidos, em maio, para se encontrar com Algren, com quem viajará por várias cidades americanas e também pela Guatemala e México. A viagem termina com um sério desentendimento por parte de Nelson, inconformado com o modo que Simone tem de encarar a relação entre os dois — e também por ela ter de antecipar sua volta à França, por causa de Sartre.
Publicação de L'Amérique au Jour le Jour.
Em julho, Beauvoir viaja para a Argélia, a trabalho, com Sartre.
Depois de ter morado por 18 anos em hotéis, em outubro, Simone resolve se mudar para um pequeno apartamento de quinto andar, na rue de la Bûcherie, uma antiga e estreita rua no Quartier Latin.
Beauvoir em 1948
Algren vai à Paris em maio, e fica hospedado no apartamento de Simone.
O Segundo Sexo é lançado em dois volumes (o primeiro em junho, o outro em novembro), causando grande escândalo. Beauvoir é severamente atacada, mesmo por alguns amigos, como Camus. Ao falar sobre o corpo da mulher e a sexualidade feminina, Simone quebra importantes tabus. O Vaticano põe o livro no index. A despeito de tudo, o livro é um sucesso absoluto de vendas: vinte e dois mil exemplares do 1º volume se esgotam em uma semana. O 2º volume é vendido com maior facilidade ainda.
Por causa da repercussão de O Segundo Sexo, a vida de Beauvoir se torna um inferno em Paris. Ela viaja durante dois meses com Algren pela Itália, Argélia, Marrocos e Tunísia. Na volta do Norte da África, passam alguns dias com Bost e Olga, na Provence. Em meados de setembro, Nelson volta aos Estados Unidos.
Simone começa a escrever Os Mandarins.
Simone de Beauvoir aos 40 anos, em 1949
Na primavera, Simone viaja para a África através do Saara, em companhia de Sartre.
Em agosto, Beauvoir vai a Chicago encontrar-se com Algren, que se mostra cada vez mais frio e indiferente. Nelson aluga um chalé em Miller, no lago Michigan, a fim de fugirem do calor de Chicago, mas os dois dormem em quartos separados. Bastante desapontada, Simone começa a tomar anfetaminas para conseguir trabalhar em seu livro (Os Mandarins). Quando se despedem, no fim de outubro, Algren anuncia que pretende se casar outra vez com sua ex-mulher. Beauvoir não quer acreditar que tudo havia acabado, mas Nelson deixa isso bem claro numa carta que ela não demoraria a receber em Paris. Simone mergulha na redação de seu romance, escrevendo de sete a oito horas por dia.
Beauvoir e Algren, em 1950

1951 - 1953

Em setembro de 1951, Beauvoir vai mais uma vez aos Estados Unidos. Ela e Algren haviam decidido estar juntos em outras bases. Passam um mês tranqüilo no chalé do lago Michigan, mas o que há entre eles agora é apenas amizade.
Em novembro, Simone compra um carro. Aos 44 anos ela acredita que não amará mais ninguém, e nem será mais amada.
Em março de 1952, um tumor benigno é extraído de um dos seios de Beauvoir.
Conhece Claude Lanzmann, de 27 anos, um dos novos articulistas da Les Temps Modernes, simpatizando de imediato com ele. Não demora muito para que os dois iniciem um relacionamento, e Lanzmann passe a morar no apartamento de Simone.
Sartre rompe com Camus, e se aproxima dos comunistas. Beauvoir dá apoio a Sartre, e os dois nunca mais voltam a falar com Camus.
Em 1953 O Segundo Sexo é traduzido para o inglês, vendendo dois milhões de exemplares. O livro não tardaria a ser traduzido para mais de 20 idiomas, tornando-se um verdadeiro best-seller.
No outono, Beauvoir termina de escrever Os Mandarins.

Beauvoir e Claude Lanzmann, em 1952
Os Mandarins é lançado em outubro, vendendo em apenas um mês quarenta mil exemplares. O livro, dedicado a Nelson Algren, obtém críticas elogiosas e é bem acolhido tanto pela imprensa da direita, como pelos comunistas. Nesta época a literatura era julgada muito mais pelo seu conteúdo político e social do que por seu valor estético. A editora Gallimard, responsável pela edição, assegura que o livro tinha grande chance de conquistar o Prêmio Goncourt, o que realmente acaba acontecendo no dia 6 de dezembro. Beauvoir não vai ao almoço do Goncourt agradecer aos juízes, nem vai ao coquetel da Gallimard deixar-se fotografar pela imprensa. Em vez disso, vai discretamente com Lanzmann almoçar na casa de uma amiga para comemorar a ocasião com Sartre, Olga e Bost.
Noite de autógrafos de Os Mandarins, em 1954
Com o dinheiro do Goncourt, Beauvoir compra um apartamento num prédio dos anos 20, na rue Schoelcher, que contornava o cemitério, no coração de Montparnasse. Ela se muda para lá, com Lanzmann, em meados de agosto.
No início de setembro, viaja com Sartre para a China, a convite do governo chinês. Passam um mês em Pequim, e outro viajando pelo restante do país. Eles nunca haviam se defrontado com uma cultura estrangeira tão diferente. Na viagem de volta passam uma semana em Moscou dando palestras e entrevistas.
Simone decide escrever um livro sobre a China, o que exigirá muita pesquisa. Ela vê este trabalho como uma chance de aprender mais sobre o país, e também questionar os preconceitos anticomunistas de seus leitores ocidentais.
Lançamento de Privilèges, uma coletânea contendo três pequenos ensaios: Deve-se Queimar Sade?, O Pensamento de Direita Hoje eMerleau-Ponty e o Pseudo-Sartrismo.
Sartre e Simone na China, em 1955
Como um livro de viagens fica logo datado, Beauvoir trabalha assiduamente em seu ensaio sobre a China (A Longa Marcha), chegando a escrever durante dez horas por dia.
Os Mandarins é publicado nos Estados Unidos em maio de 1956. Algren não gosta de ser ver tão exposto através de Lewis Brogan e esbraveja com os jornalistas, arrependendo-se depois. Explica-se com Simone por carta e a amizade entre os dois sobrevive.
No inverno de 1956, Beauvoir começa o projeto que havia tido há dez anos: escrever suas memórias de infância. Nesta época ela é a escritora mais famosa do mundo, e consegue ver sua vida como uma dramática história de sucesso. Em apenas oito meses ela escreve Memórias de uma Moça Bem-Comportada.
Simone torna-se parte ativa no movimento pela libertação da Argélia, posição que lhe vale observações ultrajantes em lugares públicos. Beauvoir se isola em seu apartamento por algum tempo.
Em 1957, A Longa Marcha é lançado, obtendo resenhas elogiosas.
Manuscrito de Memórias de uma Moça Bem-Comportada - clique para ampliar
A saúde de Sartre começa a deteriorar-se. Obstinado, ele trabalha excessivamente, sustentado por grande quantidade de remédios, a esse ritmo frenético soma-se o abuso do álcool. Preocupada, não suportando vê-lo se destruir, Simone começa a assumir o papel de enfermeira e guardiã, esforçando-se para que ele limitasse o uso de intoxicantes, em vão.
Em março de 1958, Simone entrega à Gallimard o manuscrito deMemórias de uma Moça Bem-Comportada.
Participa de uma manifestação contra De Gaulle em setembro e aos encontros pelo "não" ao referendo, mas o "sim" vence e De Gaulle se torna primeiro-ministro, para total desespero de Beauvoir.
Simone e Lanzmann se separam, mas conservam a amizade.
Em outubro, Memórias de uma Moça Bem-Comportada é lançado, obtendo grande sucesso de crítica e tornando-se best-seller.
Em 1959, Beauvoir continua sua militância em favor da guerra de libertação da Argélia.
Simone aos 50 anos, em 1959
A morte de Camus, aos 46 anos, em janeiro, abala Simone, mesmo eles já não sendo amigos.
Em fevereiro, Beauvoir e Sartre viajam para Cuba a convite de Carlos Franqui, diretor de um jornal, a fim de observarem uma jovem revolução em marcha. Em Havana, encontram-se com Che Guevara e Fidel Castro, que lhes serve de guia no tempo em que ficam no país.
Algren, que estava em Paris nesta ocasião, fica no apartamento de Simone. Quando ela volta de Cuba os dois viajam para a Turquia, Grécia e Creta.
No fim de maio, Beauvoir, a pedido de Gisèle Halimi, intervém numa campanha em favor de Djamila Boupacha, uma militante muçulmana, atrozmente torturada por militares franceses. Ela escreve um artigo publicado pelo Le Monde.
Assina, juntamente com Sartre, o Manifesto dos 121, documento que exige a independência da Argélia e a anistia de todos os soldados franceses que se negaram a pegar em armas contra o povo argelino.
Em agosto, Simone e Sartre visitam o Brasil, durante dois meses. O convite havia sido feito por Jorge Amado e alguns intelectuais brasileiros, interessados na revolução cubana e em mostrar ao casal o que era um país subdesenvolvido. Beauvoir e Sartre viajam pelo Brasil cobrindo doze mil quilômetros, tendo Jorge Amado como guia. No Rio de Janeiro, Simone faz uma conferência sobre a condição da mulher, enquanto Sartre fala sobre Cuba e a Argélia para salas repletas. Beauvoir e ele formam aos olhos de todos um bloco intelectual indivisível. Em Brasília, eles são recebidos pelo presidente Kubitschek. Em São Paulo fazem uma conferência para a imprensa e concedem uma entrevista para a TV. O casal é abordado na rua, sobretudo pelos jovens, e suas fotografias podem ser vistas em todos os lugares. Quando se preparavam para voltar, Lanzmann os avisa que em nenhuma hipótese eles deveriam pousar em Paris: Sartre estava ameaçado de morte, e Beauvoir também corria risco — tudo em virtude do Manifesto dos 121, e também pelo artigo sobre Djamila Boupacha. Os dois mudam o vôo para Barcelona, e voltam a Paris por estradas secundárias. No fim das contas, as acusações sobre os manifestantes, dentre os quais Sartre, são retiradas e ninguém é morto ou preso, mas muitos perdem seus empregos.
Em novembro, o 2º volume de sua autobiografia, A Força da Idade, é publicado. O livro é aclamado, e os críticos são unânimes em dizer que os escritos mais empolgantes de Beauvoir são sobre sua própria vida.

1961 - 1962

Em maio de 1961, morre Merleau-Ponty. Apesar das desavenças entre ele e o casal Sartre-Beauvoir, nos últimos tempos as relações entre Simone e Merleau-Ponty tinham voltado a ser amigáveis.
Por causa de atividades contra a política colonial na Argélia, a vida de Sartre é ameaçada e seu apartamento sofre um pequeno atentado à bomba, em julho. Ele e Beauvoir se mudam várias vezes sob nomes falsos a fim de evitar novos ataques.
Simone e Sartre participam da criação de uma Liga para a União Antifascista, que organiza em novembro uma manifestação pela paz na Argélia.
Em janeiro de 1962 o apartamento de Sartre é destruído por uma bomba plástica. A explosão volatiliza diversas cartas de Beauvoir.
A vida de Simone é ameaçada no dia em que aparece seu livro sobre Djamila Boupacha, escrito em parceria com Gisèle Halimi. O duplo testemunho torna mundialmente público o caso de uma argelina que, acusada de atentado, foi seqüestrada, torturada e violentada com uma garrafa quebrada por militares franceses. Estudantes voluntários montam guarda em frente ao apartamento de Beauvoir e nada acontece.
A paz na Argélia é declarada em março de 1962.
Em julho, Sartre e Simone viajam para Moscou, a convite da União de Escritores Soviéticos. Lena Zonina, crítica literária e tradutora, lhes serve de guia e intérprete. Sartre se envolve com ela.
Em dezembro, Beauvoir e Sartre retornam a Moscou a fim de passar o Natal com Zonina.

Sartre e Simone, em 1962, no La Coupole

No verão de 1963, Simone e Sartre passam seis semanas na União Soviética, viajando, com Zonina, pela Criméia, Geórgia e Armênia.
A Força das Coisas, o 3º volume da autobiografia de Beauvoir é publicado em outubro.
Em novembro, morre Françoise de Beauvoir, mãe de Simone. Ela começa a escrever Uma Morte Muito Suave, pois acredita que narrar sua experiência a ajudará a lidar com o luto. Começa a estreitar sua amizade com uma estudante de filosofia, Sylvie Le Bon, que havia conhecido ligeiramente em 1960.
Em 1964, Beauvoir escreve o prefácio do livro de Violette Leduc, A Bastarda, que terá enorme sucesso de crítica e público.
Uma Morte Muito Suave, considerado o mais íntimo dos livros de Simone (abordando a morte de sua mãe), é lançado no outono.
Em outubro, o Prêmio Nobel de Literatura é concedido a Sartre, mas ele o recusa, por achar que um escritor não devia se deixar transformar em instituição.
Ruptura definitiva com Algren, em novembro de 1964, em virtude da publicação de alguns trechos de A Força das Coisas, pela revista americana Harper's. Furioso com sua exposição, Nelson publica artigos ofensivos sobre Simone.
Em 18 de março de 1965, Sartre adota Arlette Elkaïm, uma franco-argelina de 28 anos que ele havia conhecido em 1956. Simone e Le Bon são as testemunhas oficiais da cerimônia que torna Arlette a única herdeira e administradora do legado literário de Sartre.
Em julho, mais uma vez, Beauvoir visita a União Soviética com Sartre. Uma delegação de escritores escoltou-os em todos os lugares. O que o casal havia planejado como uma viagem turística torna-se uma tournée oficial.
Em outubro, Simone sofre um acidente de carro quando voltava da Itália para a França. Com 4 costelas quebradas, passa três semanas de cama, recebendo cuidados de Sartre, Lanzmann e Sylvie.
Começa a escrever um novo romance, As Belas Imagens.

Beauvoir em 1963, na Rússia
Lena Zonina, Sartre e Simone na Lituânia, em 1965
Em maio 1966, Sartre e Beauvoir voltam a Moscou. Em setembro os dois vão juntos ao Japão, a convite do editor de Simone e da Universidade de Kyo. O Segundo Sexo havia se mantido na lista debest-sellers durante um ano. O casal tem uma recepção calorosa.
Em novembro, As Belas Imagens é lançado. Dedicado a Lanzmann, o livro vende cinqüenta mil exemplares na 1ª semana, ficando três meses na lista dos mais vendidos.
Em fevereiro de 1967, o porta-voz de Nasser e diretor do jornal El Ahram, convida Sartre e Beauvoir para irem ao Egito. Lanzmann os acompanha, pois Les Temps Modernes preparava um dossiê sobre o conflito árabe-israelense. Recebidos como autoridades, os dois escritores são tratados como testemunhas de alta qualidade que o Egito queria ganhar para sua causa. O regime de Nasser proclamava a igualdade dos sexos, mas a religião muçulmana se opunha a isso. No Cairo, Simone acusa os egípcios de se comportarem, no tocante às mulheres, como "feudais, colonialistas e racistas".
Deixando o Egito, o casal vai a Israel, onde são recebidos por uma delegação de intelectuais, com muita simplicidade. Beauvoir fica decepcionada com o papel das mulheres na sociedade israelense, mas elas afirmam terem obtido lugar suficientemente importante.
Ao mesmo tempo em que percorre o Oriente Médio, Simone acaba de escrever três narrativas que seriam publicadas sob o título de A Mulher Desiludida.
Em maio, em Estocolmo, Sartre e Simone participam do Tribunal Bertrand Russell, encarregado de julgar os crimes de guerra no Vietnam. Beauvoir vive um período de intenso engajamento no qual se sente "totalmente mobilizada", trabalho que lhe agrada.
Em junho, Simone começa a escrever um livro sobre a velhice.
Beauvoir se recusa a assistir ao Congresso da União dos Escritores Soviéticos, em sinal de desaprovação à condenação de dois escritores deportados para a Sibéria. A entrada dos tanques soviéticos na Tchecoslováquia, no ano seguinte, marcará, junto com Sartre, sua ruptura definitiva com a URSS, o fim de uma grande ilusão. O casal nunca mais voltará a Moscou.
Sartre e Beauvoir em 1966
Simone e Nasser, em 1967

Em janeiro de 1968, A Mulher Desiludida é lançado em edição de luxo. A tiragem de cinqüenta mil exemplares se esgota em 8 dias. Apesar do sucesso de vendas, a crítica é impiedosa, chegando a dizer que Gallimard só continuava a publicá-la por piedade. Simone replica que não havia condenado o casamento em seu livro, mas apenas a esposa. "É preciso que as mulheres trabalhem", afirma.
Durante os acontecimentos de maio de 68, após os primeiros embates sérios entre os manifestantes e a polícia, Beauvoir e Sartre publicam uma declaração no Le Monde apoiando os estudantes.
Em janeiro de 1970 A Velhice é publicado. Este ensaio, que exigiu imensa pesquisa, tem repercussão enorme e imediata, sobretudo no exterior. A imprensa, tanto de direita quanto de esquerda, reconhece que o problema dos idosos na sociedade não estava resolvido. Com seu novo livro, Simone abre outra brecha nas leis, usos e hábitos das sociedades ocidentais em favor de uma nova defesa da liberdade: "É preciso que todos os homens permaneçam seres humanos durante todo o tempo em que estiverem vivos."
Em virtude da prisão dos editores de um jornal maoísta francês, La Cause du Peuple, acusados de provocar crimes contra a segurança nacional, Sartre acaba aceitando temporariamente a direção do periódico, em abril de 1970. Simone cria, juntamente com Michel Leiris uma associação, Les Amis de la Cause du Peuple, e em junho, ela e Sartre vão para as ruas distribuir o jornal. Nesta ocasião a polícia não os incomoda, mas na semana seguinte, quando o fato se repete, os dois são presos com mais 16 pessoas. Na delegacia, apenas o casal é liberado. Sartre e Beauvoir explicam que haviam distribuído os jornais não para serem presos, mas por que acreditavam na liberdade de imprensa, e pretendiam mostrar a incoerência e covardia do chamado sistema judiciário.
Em novembro, Beauvoir se engaja no Mouvement de Libération des Femmes, MLF, tomando parte em uma manifestação em favor do direito ao aborto e à prevenção da gravidez.
Simone começa a redigir o 4º volume de suas memórias, que será publicado com o título de Balanço Final.

Beauvoir em Paris, em 1970
Simone distribuindo La Cause du Peuple, pela liberdade de imprensa, em 1970


1971 - 1973

Em abril de 1971, Beauvoir assina o Manifesto das 343, admitindo, juntamente com outras mulheres, ter feito um aborto ilegal. Na verdade, muitas delas, incluindo Simone, nunca o haviam feito. As signatárias exigem o direito à contracepção gratuita e ao aborto legal seguro. Apesar do escândalo e críticas, o movimento obtém sucesso: em 1975 o aborto será legalizado na França.
Sartre começa a ter uma série de pequenas crises que vão se tornar cada vez mais intensas com o passar dos anos.
Entre fevereiro e março de 1972, Beauvoir toma parte num retrato cinematográfico de Sartre, Sartre par Lui-Même. Muitas das cenas são filmadas no apartamento dela.
Em setembro, Balanço Final, dedicado a Sylvie Le Bon, é lançado. Pela primeira vez Beauvoir não tem nenhum projeto em mente. O movimento feminista a mantém ocupada, distração que vê como uma dádiva. Torna-se presidente do Choisir, grupo que informa as mulheres seus direitos, defende a contracepção gratuita e a legalização do aborto, bem como fornece defesa legal de graça para as mulheres. Simone escreve prefácios, concede entrevistas e reúne-se com feministas de todo o mundo. Sua principal atividade literária consiste na redação de seu diário, no qual relata obsessivamente a deterioração de Sartre.

Em 1973, Les Temps Modernes, dirigida por Beauvoir, começa a publicar uma seção em que os leitores depõem sobre sexualidade.
Sartre tem um novo derrame, e começa a ficar cego.

Em seu apartamento, em 1972

Em agosto e setembro de 1974, em Roma, Simone grava algumas entrevistas com Sartre, conversas que, acreditam, poderá ser uma espécie de continuação de As Palavras. Na verdade, de certo modo, trata-se de uma tentativa de Beauvoir em reinstalar o "legítimo" Sartre, que vinha sendo "demolido", por causa da relação entre ele e Benny Lévy (também conhecido por Pierre Victor), um jovem maoísta muito inteligente, mas também bastante inescrupuloso. Estas entrevistas só serão publicadas em 1981, como um adicional de A Cerimônia do Adeus.
Cada vez mais ligada ao feminismo, Simone funda, juntamente com outras feministas, a Liga dos Direitos da Mulher, da qual se torna presidente. Prepara um número especial da Les Temps Modernes, para a qual redige um artigo abordando o problema da linguagem, texto que divide as feministas. Algumas acreditam que a linguagem criada pelo homem representa uma de suas formas de opressão, e reivindicam uma literatura que reflita a especificidade feminina. Beauvoir observa na linguagem uma forma de comunicação, um instrumento universal, e assinala o perigo de um gueto feminino da linguagem.
Em janeiro de 1975, Simone recebe o Prêmio Jerusalém, concedido aos escritores que promoveram as liberdades individuais. Sartre, ao completar 70 anos, já está completamente cego, o que faz com que Beauvoir redobre seus cuidados em relação a ele.
Em 1977, com a saúde cada vez mais debilitada, Sartre é motivo de grande preocupação para Simone, que, junto com outras amigas e amantes dele, se revezam a fim de impedi-lo de continuar bebendo.

Simone em 1974, na festa do MLF
Beauvoir em 1977, no apartamento de Sartre
Em 1978, pelo desejo da verdade, Simone permite que Josée Dayan e Malka Ribowska lhe façam um filme autobiográfico. Beauvoir crê que entre seus leitores, muitos se enganam por sua própria conta. Com o documentário, Simone terá oportunidade de atingir pessoas que, sem a terem lido, fazem dela uma imagem totalmente falsa.
Em 1979, é publicada a primeira coletânea de contos escrita (entre 1935 e 1937) por Beauvoir, Quando o Espiritual Domina.
Senil e cada vez mais manipulado por Lévy, Sartre assina artigos que Simone considera uma dupla traição: a ele mesmo e a ela. A relação entre ambos torna-se tensa, e Simone sofre terrivelmente com a decrepitude de Sartre, dominado por Arlette e Benny.
Em meados de março de 1980, Sartre é internado no hospital.
Jean-Paul Sartre morre no dia 15 de abril. Beauvoir cai numa profunda depressão, e desenvolve uma nova pneumonia, da qual jamais se recuperará totalmente.
Simone adota legalmente Sylvie Le Bon como sua única herdeira e executora literária. Começa a escrever A Cerimônia do Adeus.
Em 1980, no funeral de Sartre
Em 1981, A Cerimônia do Adeus é lançado. Baseado nos diários de Beauvoir, o livro retrata seu prolongado adeus ao homem a quem ela havia amado. Com sua habitual preocupação de contar a verdade, por mais brutal que fosse, e sem sentimentalismo algum, Simone narra a deterioração física e mental de Sartre. O público fica dividido: alguns consideram o livro de mau gosto, outros o acham comovente.
Morte de Nelson Algren, em 1981.
Em 1983, é publicado Lettres au Castor et Quelques Autres, edição feita por Simone de uma série de cartas de Sartre para ela e outros.
Ainda em 1983, o governo dinamarquês concede a Beauvoir o Prêmio Sonning, pelo conjunto de sua obra. Simone aproveita o montante do prêmio para ir incógnita aos Estados Unidos, por seis semanas, em companhia de Sylvie, onde acaba visitando a fazenda da feminista americana Kate Millett.
Em 1984, acontece em paris a première do filme de Claude Chabrol,Le Sang des Autres (O Sangue dos Outros), extraído do segundo romance de Simone, que não se interessa em assisti-lo.
No recebimento do Prêmio Sonning, em 1983
Depois da morte de Sartre, a saúde física e mental de Simone havia começado a se deteriorar, sobretudo por causa de sua dependência do álcool e de anfetaminas.
Beauvoir dá entrada no hospital Cochin, em março de 1986, com dores de estômago supostamente devidas a uma apendicite. Um edema pulmonar é diagnosticado. A cirurgia revela que seu fígado estava debilitado. Depois da operação, Simone contrai pneumonia e permanece num serviço de reanimação. Beauvoir precisa voltar à reanimação, onde seu estado se agrava subitamente. Ela morre na tarde de 14 de abril de 1986, aos 78 anos. Curiosamente, as causas de sua morte são praticamente as mesmas da de Sartre, falecido 6 anos antes, em 15 de abril de 1980.
Em 19 de abril Simone é sepultada no cemitério de Montparnasse, após uma cerimônia que reuniu cinco mil pessoas — que seguiram a pé o cortejo fúnebre até o túmulo de Sartre. Conforme havia desejado, ela é enterrada com o anel (de “noivado”) de Algren em seu dedo. O caixão desce à tumba que Simone partilhará com Sartre. Lanzmann lê um texto de Beauvoir. Um rumor de frustração se eleva da multidão, na maioria composta por feministas, muitas vindas do exterior, um rumor feito de cólera porque é um homem que lê suas últimas palavras, e de frustração porque a maior parte delas havia ficado do lado de fora do cemitério. Ordens haviam sido dadas para que se fechassem os portões cedo demais (talvez em razão dos esbarrões dos fotógrafos de jornal, que haviam quebrado túmulos e empurrado Beauvoir numa cova por ocasião do sepultamento de Sartre).
Jacques Chirac, então prefeito de Paris, lê um curto texto dizendo que a morte de Beauvoir assinalava o fim de uma época em que a literatura engajada havia marcado a sociedade.
A despeito destas palavras, é evidente que ainda hoje, no século XXI, Simone de Beauvoir continua a inspirar inúmeras pessoas. Basta visitar o cemitério de Montparnasse para se convencer disso: seu túmulo está sempre ornamentado com flores frescas e bilhetes de agradecimento que chegam todo dia dos quatro cantos do mundo.
Simone de Beauvoir em seu apartamento, em março de 1986
Lápide do túmulo de Beauvoir e Sartre no cemitério de Montparnasse
Sartre e Simone com Fidel Castro, em Cuba
Zélia Gattai, Sartre, Beauvoir e Jorge Amado com uma ialorixá
Beauvoir no Brasil, em 1960



Créditos: http://www.simonebeauvoir.kit.net/crono_1971_86.htm

12 comentários:

  1. "Mas o homem que se quer também desvelamento do ser, e, se coincide com essa vontade, ganha, pois o fato é que, através de sua presença no mundo, o mundo se torna presente. Mas o desvelamento implica uma perpétua tensão para manter o ser a distância, para arrancar-se do mundo e afirmar-se como liberdade: querer o desvelamento do mundo, querer-se livre, é um único movimento."

    (Simone de Beauvoir)

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  2. muito interesante e grande





    anonimo

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  3. gostei da historia de vida da simone de beauvoir...luis martins

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  4. Marcelo
    Professora eu gostei pra caramba da Simone ela era bastante esforçada, agora pelo simples fato dela ter que ta agüentando ter que ta passando frente do bar-restaurante dos pais dela é muito triste. Mas é bastante interessante porque ela descobriu seu talento e correu atrás do que sonhava fazer e isso serve de exemplo pra muito que deve ter um vida parecida com a dela.

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  5. Eu gostei é muito bom ler a biografia de Simone de Beauvoir por que ela conta da sua vida e obra coisa muito interesante como ela viveu e suas lutas pela vida

    mateus sousa 8 "A"

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  6. Eu achei muito enteressate o que eu lei pois Simone era muito querida pelo os pais ela era muita foi uma otima prafessora com escritora.Camila

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  7. Professora apesar da cronologia de Simone Beauvoir ser muito extensa eu achei muito interessante pois mostra a história de uma mulher batalhadora e que luta pelos os seus objetivos.Mas a parte que eu achei que chamou a tenção foi o fato de ser presa com seu maridopor vender jornais na rua ,sofrer ataques bomba e que Simone Beauvoir ter morrido de usar drogas e anfetaminas.THAYSE

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  8. eu gostei muito das viagens passadas e espero que esta viagem seja muito legal,lila lea e muito linda.sara e thiago.

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  9. PROF EU AMEI TODAS ESSAS VIAGENS MAIS ESSA DO FUNDÃO FOI A MELHOR KKKKKKKKK!!!

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  10. professora legal só a lila léia ok !!!

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  11. Muito bom mesmo, tudo muito bem organizado!

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