terça-feira, 5 de abril de 2011

Simposio Leitura, cultura e formação do leitor ABRALIC 2011

LEITURA, CULTURA E FORMAÇÃO DO LEITOR

Coordenadores:
Profa. Dra. Patricia Kátia da Costa Pina, UNEB
Prof. Dr. Diógenes Buenos Aires, UEMA

O ato da leitura coloca o sujeito leitor no mundo, reconstruindo ambos, numa perspectiva dialógica. Ler permite ao sujeito dar ao mundo gamas novas de significação. Ler e transformar e transformar-se (YUNES, 1989, 2009; AGUIAR,2008; BORDINI, 1988). O leitor torna-se Outro em relação a si mesmo. Não ha neutralidade no ato da leitura – ler e uma travessia das múltiplas textualidades inscritas na palavra/som/imagem. E atravessá-las significa por em dialogo os repertórios previstos no texto/obra e os repertórios pertinentes a cada leitor/interlocutor empírico – ou seja, ler talvez se configure como um dos jogos de poder (ABREU, 2002) possíveis na sociedade. Relação transitiva, cada ato de leitura deve processar uma pessoalização do lido. Ler, seja um texto literário, seja um filme, um outdoor, um jornal, um quadro, um gibi, então, parece poder ser definido como um momento em que o leitor inscreve, em si, o texto. Mas o processo tem uma contrapartida: ele também se inscreve no texto, uma vez que, ao se deixar ocupar pela materialidade textual, apropria-se dela, torna-a sua e torna-se ela mesma. Como formar um leitor hoje, tendo em conta que ler implica interpretar e criticar? As associações que estabelecemos ao ler nos revelam quem somos no e a partir do texto lido: quais as táticas que usamos como leitores para interagir com as estratégias textuais/autorais/editoriais? No ato da leitura funcionam nossos repertórios culturais, quaisquer que sejam, e esses repertórios e que nos dão o nosso lugar como leitores. Este Simpósio quer discutir como formar leitores na contemporaneidade, no mundo tecnológico de memória fragmentada e multiplicada e de releitura das tradições em que vivemos, concebendo a leitura como ato de liberdade e de libertação que agrega todos os envolvidos no processo, desde o autor/criador/adaptador/diretor/pintor do texto, passando pelos mediadores variados de leitura, ate os leitores, os consumidores de bens culturais impressos e não impressos. A aprendizagem da leitura em diferentes níveis pode ser definida como violência simbólica
(FRAISSE, 1997): a retirada da criança (ou do jovem e do adulto) do mundo da oralidade, cujas regras ela conhece por imitação e por testagens cotidianas de erro e acerto, seguida de sua inserção no mundo letrado, cujas normas lhe são completamente estranhas, constitui uma experiência traumática, individualizadora. Todos os letramentos são
desconcertantes e implicam, cada um a seu modo, uma ação de ruptura e a assunção de novas formas de agir sobre o mundo. Nenhuma ruptura e suave, romper com uma forma de viver e algo extremamente doloroso para nos adultos e, muito mais, para criancas e jovens. Neste Simpósio, ler não e só ler literatura: é ler a vida, o mundo, as muitas e diferentes formas de o ser humano concretizar sua visão de mundo. Aprender a gostar de ler textos literários e não literários, de ver filmes, de ler HQ, de ouvir musica, sao formas especificas de letramento que rompem com nossas expectativas primeiras, nossas habilidades básicas, e nos introduzem em universos novos, interessantes, variados. Nos não nascemos leitores de literatura ou de HQ, sequer nascemos leitores do mundo, precisamos ser educados para ler os livros e a vida. Essa educação, familiar, a principio, escolar, a posteriori, não e, também, um processo natural, um processo fácil e facilitador. Nós nos formamos leitores, se formos adequadamente preparados para isso (COLOMER, 2003). O processo de preparo do leitor envolve um sem numero de estratégias, desde aquelas que marcam o letramento básico, como algumas mais específicas, que se direcionam para o letramento literário, dentre as quais podemos incluir, em nivel textual, a construção, por parte do autor, de um leitor implícito, que guie a leitura do publico empírico; ou, ainda, e essa por parte de críticos e professores, o estudo da ordem textual, enfocando métrica, rimas, personagens, tempo, ambiente etc. Essas últimas estratégias para a inserção do sujeito no mundo das letras artísticas envolvem uma espécie de educação para a fruição estética. Mas ha outras estratégias a serem discutidas: as de construção de imagens visuais, em filmes, HQ, quadros. Ao compreender-se interagindo com o texto, qualquer que seja, o leitor empírico se percebe numa intimidade que pode levá-lo a querer repetir a experiência e a gostar do desafio (FOUCAMBERT, 2008). O caso e o percurso que deve ser feito, através de diferentes mediações, para que o sujeito, apos a aprendizagem das primeiras letras, aprenda a lidar com as muitas formas artísticas que se dão a ler. E possível pensar esse processo como uma cadeia de pequenas e recorrentes ações violentas contra a natureza oral da criança, do adulto ou do jovem. Pretende-se, neste Simpósio, focalizar pesquisas que discutam a literatura em seus diferentes diálogos com outras linguagens, como o cinema, a TV, o blog, a HQ, entre outras, alargando as fronteiras da leitura e de seus objetos e sujeitos.
Referências bibliográficas:
ABREU, Marcia. Prefácios: Percursos da Leitura. In.: _____ (org.). Leitura, história e história da leitura. Campinas/São Paulo: Mercado das Letras/Associação de Leitura do Brasil/ FAPESP, 2002.p.9-17
AGUIAR, Vera Teixeira de. Da Teoria a Pratica: Competências de Leitura. In.: MARTHA, Alice Aurea Penteado (org.). Leitor, leitura e literatura: teoria, pesquisa e pratica – conexões. Maringá: EdUEM, 2008. 188p. p.13-26.
BORDINI, Maria da Gloria e AGUIAR, Vera Teixeira de. Literatura: a formação do leitor. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1988.
COLOMER, Teresa. A formação do leitor literário. Tradução Laura Sandroni. São Paulo: Global Editora, 2003.
FOUCAMBERT, Jean. Modos de ser leitor: aprendizagem e ensino da leitura no ensino fundamental. Curitiba: Editora UFPR, 2008.
FRAISSE, Emmanuel; POMPOUGNAC, Jean-Claude; POULAIN, Martine.(org.). Representações e imagens da leitura. Traducao de Osvaldo Biato. São Paulo: Ática, 1997.
YUNES, Eliana e PONDE, Gloria. Leitura e leituras da literatura infantil. 2ed. Sao Paulo: FTD,
1989.
YUNES, Eliana. Tecendo um leitor: uma rede de fios cruzados. Curitiba: Aymará, 2009

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